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O
conceito de “origem independente” se adéqua a
tatuagem, pois ela foi inventada várias vezes, em
diferentes momentos e partes da Terra, em todos os
continentes, com maior ou menor variação de propósitos,
técnicas e resultados.
Charles Darvin, quando escreveu o livro “A Descendência do Homem” em 1871,
afirmava que do Pólo Norte à Nova Zelândia não havia aborígine que não se
tatuasse. |
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Para entender o conceito de multinascimento, alguns
críticos supõem que a tatuagem estava na bagagem
das grandes migrações dos grupos humanos e por
isso passou de um povo para o outro. |
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Através
da arte pré-histórica podemos encontrar vestígios
da existência de povos que cobriam o corpo com
desenhos. Em vários exemplares de arte rupestre,
foram encontrados desenho de formas humanas com
pinturas em seus corpos, assim como estatuetas com
esses mesmos desenhos corporais indicando a
possibilidade da existência da tatuagem nesses
povos. Há uma hipótese de
que, nos primórdios, marcas involuntárias
adquiridas em guerras, lutas corporais e caças
geravam orgulho e reconhecimento ao homem que as
possuísse, pois eram expressões naturais de força
e vitória. |
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O
homem, então, partindo da idéia de que marcas na
pele seriam sinônimos de diferenciação e status,
passou a marcar-se voluntariamente, fazendo ele
mesmo seus ferimentos pelo corpo, que com o passar
do tempo deu espaço para a criação de desenhos
utilizando-se de tintas vegetais e espinhos para
introduzi-las à pele.
A partir daí, diversos povos, de diversas culturas
começaram a usar pinturas definitivas por motivos
espirituais, em rituais de várias espécies e fins,
para a guerra, para marcar os fatos da vida biológica:
nascimento, puberdade, reprodução e morte entre
outros.No entanto, foi com a descoberta das múmias que
ficou provado real e concretamente que a arte da
tatuagem acompanha o homem desde o seu surgimento.
A
Múmia mais antiga do mundo foi encontrada em 1991,
na Itália e data de 5.300 anos antes de Cristo,
conservou-se congelada em um bloco de gelo e tinha
tatuagens acompanhando toda a espinha dorsal, além
de uma cruz numa das coxas e desenhos tribais por toda a perna. A
segunda múmia mais antiga do mundo é de uma
princesa egípcia que apresentava um grande espiral
desenhado na barriga, região do baixo ventre, que
alguns antropólogos relacionaram a possíveis
rituais de fertilidade. Outras múmias apresentaram
tatuagens de conteúdo mágico ou médico. Em
algumas delas, como na múmia de uma sacerdotisa de
2000 a.C havia linhas horizontais e paralelas à
altura do estômago, possivelmente para proteção
contra gravidez ou doenças. Múmias com os mesmos
tipos de sinais foram encontradas no vale do rio
Nilo. Segundo especialistas, as tatuagens em múmias
do sexo feminino tinham um efeito cosmético, para
realçar seus encantos. |
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Em
escritos antigos de Heródoto, chamado “O pai da
história”, há citações sobre a existência de
um povo muito antigo no norte Europeu que tinha o
costume de fazer desenhos definitivos pelo corpo,
esses povos eram denominados “Pictus”, por esse
mesmo costume. Os Pictus não se tatuavam por
vaidade. Acreditavam que as tatuagens lhes davam
poder e força e que os desenhos ficavam impressos
na alma para que eles pudessem ser identificados após
a morte por seus antepassados. Seus guerreiros
recebiam as tatuagens depois de um ato de bravura.
As linhas entrelaçadas dessas tatuagens, complicadíssimas
de serem realizadas, serviam para distrair o
inimigo, além de representarem a interconexão de
todas as coisas sobre a terra. |
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Os nativos da Polinésia,
Filipinas, Indonésia e Nova Zelândia (maori),
tatuavam-se em rituais complexos, sempre ligados à
religião. Os maori se destacaram pela criatividade
do Moko, tatuagem tradicional feita no rosto. Os
povos Celtas e Vikings, os dinamarqueses, os
normandos e os saxões, também desenvolveram os
seus próprios estilos de tatuagem. A técnica pouco
variava, mas os desenhos e motivos das pinturas eram
singulares em cada cultura.
No Taiti, segundo tradição local, a prática da
tatuagem seria de origem divina. Durante o Po’
(período obscuro) ela teria sido inventada pelos
dois filhos do deus Távora Mata Mata Arahu (aquele
que imprime com carvão de madeira) e Tu Ra’i Po’
(aquele que reside no céu obscuro) que faziam parte
do grupo de artesões. Eles inventaram a tatuagem e
ornamentaram-se com um motivo denominado “Tao Maro”
com o intuito de seduzir e tirar a virgindade de uma
linda mulher, que era mantida prisioneira e vigiada
por sua mãe; Hina Ere Ere Manua, movida pelo desejo
de se deixar tatuar, consegue enganar a vigilância
da mãe e é finalmente “tatuada”. Estes
ilustres antepassados são sempre invocados antes de
se Iniciar uma tatuagem, a fim de que a tatuagem
seja perfeita, que as feridas cicatrizem rapidamente
e que os desenhos se revelem agradáveis à vista. |
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Para
os Samoanos, o ato de pintar o corpo marcava a
passagem da infância para a maioridade. Enquanto não
fosse marcado, o membro da tribo, por mais velho que
fosse, não teria voz numa roda de adultos, nem
teria permissão para tomar uma esposa para si. A
tatuagem também funcionava como instrumento de
ascensão social. Quanto mais tatuado fosse o Samoano, mais alto seria seu estatuto na tribo.
Na clandestinidade, sob o jugo do poder pagão, os primeiros cristãos se
reconheciam por uma série de sinais tatuados, com destaque para a cruz. As
letras IHS, abreviatura do nome Jesus, o peixe, letras gregas, etc. |
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A Idade Média baniu a tatuagem da
Europa, com o argumento de que era “coisa do demônio”.
Qualquer cicatriz, má formação ou desenho na pele
não era visto com bons olhos. Essas pessoas eram
perseguidas, aprisionadas e mortas em fogueiras pela
inquisição a mando dos senhores feudais que queria
exterminar possíveis “redentores do povo”.
No Japão feudal as tatuagens eram usadas como forma
de punição, tornando-se sinônimo de
criminalidade. Para o japonês, muito preocupado com
sua posição na sociedade, ser tatuado era pior do
que a morte. Mais tarde, na Era Tokugawa, época de
intensa repressão, ser criminoso se tornou sinônimo
de resistência, popularizando a tatuagem. Foi nessa
época que surgiu a Yakuza, a máfia japonesa, cujos
membros têm os corpos todos pintados em sinal de
lealdade e sacrifício à organização e
simbolizando a sua oposição ao regime.
Os chineses acreditavam que as tatuagens desviavam o
mal de quem as possuía e marcavam a pele com
labirintos sinuosos para confundir os olhos do
inimigo. |
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Na
América, tanto as tribos indígenas dos Estados
Unidos, quanto as civilizações Maias e Astecas,
eram praticantes da tatuagem. Para os Índios Sioux,
tatuar o corpo servia como uma expressão religiosa
e mágica. Eles acreditavam que após a morte, uma
divindade aguardava a chegada da alma e exigia ver
as tatuagens do índio para lhe dar passagem ao paraíso.
Um pouco mais próximo da linha do equador, Cortez
se espantou com o fato dos Maias praticarem o culto
dos deuses de pedra. Mais ainda, estes povos tinham
o costume de gravar as imagens dos seus deuses na própria
pele. |
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Apesar dos
europeus terem desenvolvido a tatuagem com os Celtas e os povos bárbaros, os
conquistadores nunca tinham visto uma tatuagem antes, o que ajudou a
qualificarem os Maias de "adoradores do diabo" e os massacrarem pelo seu ouro. |
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A
tatuagem foi introduzida no Ocidente no século
XVIII, com as explorações que colocaram os
europeus em contato com as culturas do Pacífico.
Nessa época não existiam tatuadores profissionais,
mas alguns amadores já estariam a bordo dos navios
e em grandes portos.Na segunda metade do século
XIX, as tatuagens viraram moda entre a realeza européia. |
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No final do
século XIX, a febre da tatuagem espalhou-se na Inglaterra como em nenhum outro
país da Europa. Graças à prática dos marinheiros ingleses em tatuarem-se. Vários
segmentos da sociedade inglesa se tornaram adeptos da arte.
Mas mesmo com a realeza tendo sido tatuada, a maioria das pessoas insistia em
associar o ato de tatuar com uma propensão à criminalidade e marginalidade.
Outros interpretavam a penetração da carne como uma tendência à
homossexualidade. |
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A
palavra tatuagem origina-se do inglês tattoo. O pai
da palavra "tattoo" foi o capitão James
Cook , que escreveu em seu diário a palavra "tattow",também
conhecida como "tatau", uma onomatopéia
do som feito durante a execução da tatuagem, em
que se utilizavam ossos finos como agulhas, no qual
batiam com uma espécie de martelinho de madeira
para introduzir a tinta na pele. A partir de 1920 a tatuagem foi ficando mais
comercial, tornando-se mais popular entre americanos e europeus. |
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Surgindo
uma gama de tatuadores que eram artisticamente
ambiciosos. Eles acharam muitos clientes nas décadas
de 1950 e 1960. Durante muito tempo, nos Estados
Unidos, a tatuagem esteve associada a classes sócio-econômicas
mais baixas, aos militares, aos marinheiros, às
prostitutas e aos criminosos.
A tatuagem elétrica chegou ao Brasil em junho de
1959, através do dinamarquês "Knud Harld
Likke Gregersen", que ficou conhecido como
"Lucky Tattoo". Knud dizia que suas
tatuagens davam sorte, e em menos de seis meses,
Lucky já era notícia de TV.
A grande popularização da tatuagem nas Américas
começou nos anos 70, quando a Califórnia foi o berço
dos desenhos que reproduziram imagens de Marilyn
Monroe, James Dean e Jimmy Hendrix. Nessa mesma época,
os surfistas lançaram a moda de braços decorados
com dragões e serpentes. Na década de 80, foi a
vez dos tigres e das águias. Desde então, a
tatuagem teve um aumento tão grande de popularidade
que o número de estúdios subiu de cerca de 300
para mais de 4.000 nos últimos 20 anos, nos Estados
Unidos. |
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Hoje
em dia, é difícil encontrar alguém que não tenha
ao menos pensado em fazer uma tatuagem.
A chamada
"arte na pele" cada vez mais perde o
estigma marginal que costumava caracterizá-la e está
nos corpos de pessoas de várias idades e classes
sociais.
De uma simples marca tribal até
gigantescos dragões, elas deixaram a
clandestinidade para ganhar as ruas. |
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As tattoos, hoje, no mundo da estética, são muito
bem recebidas na recomposição de sobrancelhas,
delineamento dos olhos e lábios, cobertura de
manchas e cicatrizes. Lentamente, a tatuagem também
passa a ser reconhecida como arte, graças as iniciativas
dos tattoo clubs de todo o mundo que promovem exposições,
competições entre os melhores trabalhos e realizam
convenções para a atualização e modernização
dos métodos de aplicação e de assepsia. |
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Mesmo
com toda essa evolução, o fato é que, até hoje,
muitas pessoas são discriminadas, como os povos
antigos, por terem os seus corpos tatuados.
Mas
apesar de toda a propaganda contrária,mais e mais
pessoas se dispõe a sacrificar suas peles para
gravar figuras que cativam, excitam, polemizam e
embelezam os seus corpos. |
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