Um dos assuntos que causa controvérsia aqui no Brasil é um problema dos Ritos Maçônicos.
Há Potências Maçônicas que fixam em suas Constituições os Ritos
que reconhecem e consideram regulares.
Em algumas Potências Maçônicas, afirma-se que consideram Regulares unicamente o Rito Escocês
Antigo e Aceito, enquanto há outras que ainda acrescentam os Ritos York e
Schroeder.
Não sabemos a que atribuir esta pretensão de considerar unicamente estes três ritos
acima mencionados como os únicos regulares existentes no universo maçônico.
Temos, entretanto, a impressão de que se trata única e exclusivamente
da falta de conhecimento e de estudo da Maçonaria em seu contexto universal.
Se observarmos a mentalidade do maçom brasileiro, podemos notar que, em sua maioria, o
mesmo se restringe à sua Loja, não lhe interessando muito o que
extrapola. Só lhes interessa e, às vezes, de maneira muito vaga, o
relacionamento entre a sua Loja e a Potência Maçônica. Esta indolência
traz naturalmente em seu bojo o resultado da completa estagnação, que
afeta muitas Potências Maçônicas brasileiras e que ainda que cresçam
em número de Lojas, podemos afirmar, pelo que temos tido oportunidade
de observar, que é um crescimento fictício, pois não é quantidade
que demonstra a força e pujança de uma potência, mas sim a qualidade
dos componentes de uma Loja e, conseqüentemente, isto se reflete na Potência Maçônica.
Isto contribui para gerar o pensamento entre os maçons, de que sua Loja e o seu Rito
é o certo e todos os demais são de segunda categoria ou até
irregulares. Corno o Rito Escocês Antigo e Aceito é praticado no
simbolismo, aqui no Brasil, nas potências maçônicas em praticamente
99% das Lojas, leva automaticamente de que os demais ritos são olhados
de uma maneira não muito simpática e que muitos Irmãos os consideram inferiores.
Se no Brasil o Rito Escocês Antigo e Aceito predomina, não devemos, entretanto, nunca
nos esquecer de que na Maçonaria universal a Maçonaria brasileira é
parte integrante, a situação é muito diferente. Podemos calcular o número
de Lojas simbólicas que existem na Maçonaria universal, incluído o
Brasil, em cerca de cinqüenta e cinco mil Lojas, sendo que o Rito Escocês
Antigo e Aceito é praticado por cerca de 10% destas Lojas, e as demais
praticam os diversos ritos regulares existentes. Não há, portanto, razão
alguma para certos Irmãos se julgarem superiores, visto que todo e
qualquer rito Maçônico, desde que preencha as condições que se exige
de um Rito Regular, é merecedor do maior respeito e acatamento.
Se há alguma diferença ritualística entre os ritos, não nos cabe e ninguém tem o
direito de exercer crítica neste particular, ternos que respeitar a
modalidade dos trabalhos, quer em suas Sessões Econômicas, quer em
suas Sessões Magnas de Iniciação, Elevação, Exaltação ou de
Instalação de seu Venerável, devidamente eleito, segundo as normas de sua ritualística.
Temos observado, ao longo dos anos, o sistema adotado por algumas Potências Maçônicas,
quanto à Instalação de Veneráveis eleitos. Em regra geral, as
instalações são feitas em grupos, quando não em massa.
O conhecido escritor José Castellani, que sem favor algum é um dos mais
capacitados estudiosos em Maçonaria que temos no Brasil, escreveu no
Jornal “A Gazeta Maçônica” nº 167, de maio/junho de 1987, sobre
uma pergunta que lhe fora feito, de que se um Venerável eleito, que não
passando pela cerimônia da Instalação e mesmo assim exercendo a
Presidência da Loja, poderia ser considerado ao término do mandato um ex-Venerável.
A resposta do Irmão Castellani foi incisiva e a seguinte: “Em primeiro lugar, é preciso
esclarecer que a cerimônia de Instalação de Veneráveis não é da
competência da Obediência, mas, sim, da própria Oficina, pois três
ou mais Mestres Instalados (da própria Oficina ou não), sempre que for
necessário, organizam-se em Conselho de Mestres Instalados, para nele
proceder a cerimônia de Instalação, de acordo com o ritual
apropriado. Em segundo lugar, é preciso ter em mente que um Venerável
eleito não poderá ser empossado no cargo sem antes ser investido na
dignidade de Venerável Mestre Instalado. O caso configurado na pergunta
representa, portanto, uma flagrante ilegalidade. Cabe aqui, por fim, uma
observação: sendo a cerimônia de Instalação revestida de solene
austeridade, com profundos ensinamentos, que induzem à meditação, ela
deve, mesmo, ser feita pela própria Loja, pois assim, com um só Venerável
a ser instalado, o ato não perderá a dignidade.
Algumas Obediências, contudo, costumam fazer, num ato só, a Instalação de dezenas (e até
centenas) de Veneráveis, em verdadeiras Instalações grupais, ou
tribais, que transformam a cerimônia num buliçoso festival, numa
feira-livre, num mercado de peixe, onde a transmissão dos ensinamentos
tornam-se praticamente impossível.”
Igualmente o Respeitabilíssimo O Irmão Emilio Traverso y Angeloni Past Grão-Mestre
da Grande Loja do Peru, em seu trabalho “Franco-Maçonaria”, escrito
em 1967 e publicado pela Grande Loja do Peru, escreveu claramente sobre
este assunto dizendo: “Um grupo de ex-Veneráveis de uma Loja
constitui o Conselho de Veneráveis Mestres Instalados da mesma, sendo
sua função primordial, presididos pelo Venerável Mestre, instalar o
sucessor devidamente eleito, na Cadeira do Governo da Loja, e
outorgar-lhe o grau respectivo.
Uma Loja de Veneráveis Mestres Instalados pode outorgar, excepcionalmente, o Grau da Cadeira a
um Venerável Mestre de uma Loja, devidamente eleito, que não o pode
receber na época regular de sua Loja. Porque, e repetimos, é direito
indiscutível e privilégio do Venerável Mestre que deixa o seu cargo,
de instalar o seu sucessor na Cadeira de sua Loja, em companhia dos seus
ex-Veneráveis, direito que não pode ser assumido por nenhum outro Irmão,
nem individual, nem coletivamente, sem incorrer numa usurpação de
atribuições, salvo convite expresso para isto pela própria Loja.
Todas as cerimônias indicadas devem ser praticadas pelo Venerável Mestre que deixa o cargo
e pelos ex-Veneráveis Mestres da Loja, em Loja aberta, os quais
constituem o Conselho de Mestres Instalados da Loja. É um direito, e
ainda mais um privilégio do Venerável Mestre, que deixa o cargo, de
instalar e outorgar o grau da Cadeira a seu sucessor em sua própria
Loja e nunca fora dela.
Nenhuma outra autoridade, incluído o Grão-Mestre, salvo em casos excepcionais,
devidamente justificados, pode praticar tais cerimônias sem atentar
contra este direito e contra a independência e autoridade da Loja.”
Era o que nos cabia expor aos estimados Irmãos, e esperamos que este despretensioso
trabalho sirva para a meditação dos Irmãos e que procurem se
aprofundar no estudo da Maçonaria sob todos os seus aspectos.
Ir.·. Kurt Max Hauser |