A maçonaria é
velada por símbolos e alegorias e não impõe, portanto limites à
investigação da verdade. Um dos seus sentidos ocultos, reside nos painéis
da Loja, e, no presente caso, a título de informação e instrução,
tentarei explicar sob o meu ponto de vista o painel da Loja de aprendiz.
Antes, porém de
iniciarmos a descrição do painel propriamente dito, necessário é que
caracterizemos a instituição maçônica, como um repositório de
conhecimentos esotéricos e, por conseguinte ocultos, sobretudo onde se
cria o ambiente favorável à evolução espiritual, devido residir na
magia do ritual a presença do grande Arquiteto do Universo, pois existe
uma série de traços e de reflexos que tornam possível senão
distingui-lo pelo menos sentirmos sua misteriosa aproximação.
No painel da loja
de aprendiz, observamos em primeiro plano as três colunas mestras
dispostas de maneira a formar um triângulo, símbolo máximo da perfeição
e do equilíbrio, representando, por conseguinte os três mundos inteligíveis,
que correspondem pela analogia: O mundo físico ou natural representado
pela coluna da força; o mundo espiritual ou metafísico, simbolizado
pela coluna da beleza e o mundo divino ou religioso, expresso pela
coluna da sabedoria, qualificando a onipotência e onisciência e a
onipresença do Grande Arquiteto do Universo, que constitui a tela de
fundo de toda a meditação porque tudo está ligado e unido num mesmo
todo.
As colunas
projetadas dentro do painel mostram-nos ainda seu apoio no pavimento de
mosaico, que é a personificação da dualidade ou pares opostos, como
dia e noite, a dor e o prazer, a honra e a calúnia, o êxito e a
desilusão, pois é na dualidade que repousam todos os caminhos de nossa
existência, porquanto são os dias dos homens que fazem o julgamento de
sua própria conduta.
Na coluna da força,
repousa o punhal, símbolo da força bruta, utilizado para decapitar e
cortar a cabeça de São João - Juan que etimologicamente significa Graça
Divina.
Iniciando, pois
nossa jornada, auxiliada e conferida pela retidão do prumo, encontramos
à nossa direita a lâmpada que é a imagem da iniciação, a razão
esclarecida pela inteligência e sua chama ilumina o saber ou o ser
interno, pois só se pode caminhar nas trevas em direção à luz, a
qual atrai nossa natureza espiritual e material, indicando-nos a
necessidade de superar o estado de desordem que caracteriza o homem,
escravo de suas paixões, vícios e erros, ensejando-nos a trabalhar
nosso ser para que se manifeste a perfeição sublime.
Continuando,
encontramos o esquadro, que representa a faculdade do juízo e que
permite comparar a retidão, a direção do ideal, segundo nos mostra a
própria marcha do aprendiz.
Desta maneira,
chega-se à coluna da beleza, onde encontramos a pedra bruta, já com os
instrumentos de trabalho postos às nossas mãos a fim de que iniciemos
o trabalho árduo de desbastá-la, utilizando-se do malho e do cinzel
que vêm a ser, vontade e julgamento.
O malho representa
a força inconsciente, a vontade bruta maciça, enquanto que o cinzel,
é o juízo, a força criadora do espírito e juntos, utilizados com
presteza e exatidão, têm o objetivo de definir, que o homem deve
dominar seus impulsos e tornar-se firme e semelhante a um metal
purificado no cadinho de modo que as suas impulsividades habilmente
orientadas possam, com energia e firmeza, realizar o ato desejado com
precisão.
Pela ação
combinada dos dois instrumentos, comprovada pelo esquadro, colocamo-nos
em harmonia com nossos semelhantes, o que nos permite progredir na senda
do bem, pois da pedra bruta conseguimos a pedra cúbica que é, na
realidade, a pedra filosofal dos alquimistas.
Continuando nessa
busca incessante, dirigimo-nos à coluna da sabedoria, que representa o
Venerável Mestre, do qual recebemos a palavra sagrada que significa
"Na Força", ou seja, reconhecemos através da palavra
sagrada, isto é, do Verbo Divino, que a força verdadeira não se
encontra no exterior, no mundo dos efeitos, porém, internamente,
ficando aqui patente um profundo sentido esotérico onde o mestre não dá
a todos a chave de suas parábolas: "a fim de que vendo não vejam;
ouvindo, não ouçam", portanto procurai e achareis, batei e
abrirse-vos-á.
Neste exato
momento é - nos possível adentrar o círculo com o ponto no centro,
representação da unidade princípio (o ponto) no centro da eternidade
(o círculo, linha sem começo nem fim), porque chegamos ao domínio
pela ciência e pela sabedoria da natureza, pensamento e verdade, pois o
homem é o microcosmo ou pequeno mundo e conforme o dogma das analogias,
tudo o que está no grande mundo (macro) reproduz?se no pequeno (micro).
Por sobre o círculo
sagrado, encontramos exposto no altar, o livro da lei que é o símbolo
máximo da elevação de nossos pensamentos, por meio do qual conhecemos
a verdade, que é o propósito de toda experiência.
Suportada pelo
livro da lei fica a escada de Jacó, cujo cimo toca os céus, descrita
com propriedade no livro de Gênesis - Capítulo 28, versículo 1O a 13,
onde Jacó viu anjos que desciam e subiam por ela e Jeová disse-lhe:
"Eu sou Jeová, Deus de teu Pai Abraão e de lsaac".
"A terra em
que estás deitado, a darei a ti e à tua posteridade; a tua posteridade
será como o pó da terra e se dilatará para o Ocidente e para o
Oriente, para o Norte e para o Sul. Por ti e por tua descendência serão
benditas todas as famílias da terra".
"Eis que
estou contigo e te guardarei por onde quer que vá e te reconduzirei
para esta terra; porque não te abandonarei até ter Eu cumprido aquilo
de que te hei falado".
A interpretação
da escada de Jacó é que este é o único caminho para atingirmos o êxtase
total, a plenitude, entretanto, devemos mais uma vez superar os obstáculos
que encontramos em nossa ascensão, pela fé renovadora, simbolizada e
identificada pela Cruz.
A âncora aqui não
representa tão somente a esperança, todavia sua colocação nos
degraus da escada de Jacó, significa o elemento que deve ser
ultrapassado, pois a âncora tem a finalidade precípua de nos fixar à
matéria.
O cálice representa a provação, o juízo final, transposto este obstáculo,
atingimos a luz maior, a estrela de sete pontas ou dos magos conforme o
arcano XVIII do livro de Thot.
A estrela de sete
pontas é o grande pináculo da luz eterna, síntese da unidade a que
respondem as sete vozes da análise, o Apocalipse, onde os sete anjos,
com as sete trombetas, suas sete espadas, etc., caracterizam o absoluto
da luta do bem contra o mal, pela palavra, pela associação religiosa e
pela força.
Assim, os sete
selos do livro oculto são abertos sucessivamente e a iniciação
universal se realiza porque atingimos o grau máximo de perfeição e
estamos aptos a achar a paz do coração, o desvanecimento do espírito,
o ritmo da evolução e em comunhão perfeita e consciente com o ser
Supremo.
O céu é a imagem
do infinito, as estrelas representam a idéia Divina que nos descobrem o
mundo da realidade e da verdade, porque a perfeição é infinita,
representada pelo sol que nasce no Oriente, fonte natural de luz e da
sabedoria e do princípio criador.
Ir.·. Dagoberto Barbosa
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