O Rito da Estrita Observância.
Jacques De Molay - último Grão Mestre dos Templários
A História antiga assemelha-se a uma paisagem noturna pela qual vamos tateando e
indistintamente discernindo alguns contornos na escuridão prevalecente, mas
felizes quando aqui e ali as obras de um determinado autor, alguma ruína ou
obra de arte iluminam como um relâmpago nas trevas o nosso campo especial de exploração.
- Philo, sobre a vida contemplativa, p. 349, F. C. Conybeare.
Ingênuos ou charlatães! Eis a crítica das autoridades maçônicas aos principais espíritos
da Estrita Observância; o estudante, todavia, ao avançar com dificuldade por
entre as montanhas de literatura polêmica que se acumularam, particularmente em
volta desta entidade, sente-se impelido a perguntar: estarão toda a honestidade
e sabedoria do lado dos críticos e será racional supor que neste
desenvolvimento da difusão da Maçonaria não exista alguém com clarividência
suficiente para realizar no interior da entidade o trabalho que o inimigo
"fora das portas" arroga-se constantemente o direito de fazer - o
trabalho salutar da investigação?
Uma conhecida autoridade abre fogo com a seguinte zombaria: De todas as extraordinárias
perversões da Maçonaria, cuja origem deve-se à férvida imaginação de
nossos confrades do século passado, nenhuma pode comparar-se, sob o ponto de
vista do interesse, ao sistema da "Estrita Observância".! (...) Todo
o sistema era baseado na ficção de que, ao tempo da destruição dos Templários,
certo número de Cavaleiros se refugiou na Escócia e lá preservou a existência
da Ordem. A seqüência dos Grão-Mestres supostamente não foi interrompida e
era conhecida dos iniciados uma lista de regentes, em sua sucessão regular,
sendo que a identidade do Grão-Mestre empossado no momento era mantida em
segredo, durante sua vida, para todas as pessoas, menos pára seus confidentes
imediatos; daí o termo "Superiores Desconhecidos",
Dizem que esses Cavaleiros, a fim de conseguir uma segurança perfeita, juntaram-se às
Guildas de Maçons, na Escócia, e deram assim início à Fraternidade dos Maçons.2
O rasto da serpente materialista pode ser identificado em seu precioso trabalho, embora o
autor adiante-se a alguns críticos alemães, reconhecendo os motivos honestos
de pelo menos um dos líderes deste Rito. Mesmo com este aumento de
generosidade, porém, é evidente que "ingênuos ou charlatães"
resume pelo menos dois terços da opinião dos escritores maçônicos do século
passado e do presente, quanto às condições mentais e morais dos membros da
Estrita Observância.
As evidências
da posição - mental, moral e mundana - de muitos dos seus membros, todavia,
impedem uma generalização assim apressada, porquanto os críticos que assim
estigmatizam os estudantes de misticismo não devem olvidar que pertenceram a
esta Ordem mais reis, membros de famílias reinantes, eruditos e altos funcionários
do que figuravam em outra qualquer lista da Ordem Maçônica. E entre tais príncipes
e grão-duques encontravam-se estudantes aplicados, governantes bons e sábios e
homens respeitados por todos que os conheciam, pelo seu juízo e probidade. Com
eles encontramos eruditos, nobres e funcionários de alta posição, com nomes
imaculados; estes, aliás, não podem ser sumariamente incluídos numa ou noutra
categoria - e mesmo admitindo que houvesse um resíduo de membros cujos princípios
não eram dos mais altos, e dando generoso desconto para tais pessoas, que são
encontradas em todas as sociedades, ainda assim resta uma quantidade enorme de
irmãos honestos, consagrados à pesquisa mística - e isto não permite
qualquer generalização apressada; subsiste, porém, o fato de que existe
difundido sentimento de que, no interior da Maçonaria, esconde-se uma tradição
mística e oculta que é a própria história da evolução espiritual.
Ao ler a crítica impiedosa e frívola aos membros da Estrita Observância que tentavam
reafirmar a doutrina mística, é divertido observar a petulante pretensão à
honestidade e clarividência que - de seu próprio ponto de vista - parecem ser
as únicas prerrogativas de alguns poucos oniscientes que haviam sondado –
pensavam eles - o misticismo e suas sobrenaturais loucuras com uma sabedoria
luminosa que eles - o misticismo e suas sobrenaturais loucuras com uma sabedoria
luminosa que os próprios anjos invejariam.
Antes de falar no próprio sistema, será bom referir alguns dos irmãos que caíram sob
"o dente estraçalhador da crítica". Encontramos, no ano de 1774,
nada menos que doze príncipes reinantes membros do Rito e, na lista seguinte -
na qual de modo algum são citados todos os membros da família real -,
verificamos que, em alguns casos, famílias inteiras entravam para a Sociedade.
Não podem ter sido todos ingênuos e certamente não podem todos ter sido
charlatães; ocupavam posições da maior responsabilidade e não poderiam
ligar-se a algo de duvidoso. A lista é a seguinte:
- Karl George, landgravede Hesse-Darmstadt.
- Friedrich, landgravee príncipe de Hesse-Kassel.
- Ludwig, grão-duque e príncipe de Hesse-Darmstadt.
- Christian Ludwig,landgrave e príncipe de Hesse-Darmstadt.
- Friedrich George August, príncipe de Hesse-Darmstadt.
- Ludwig George,príncipe de Hesse-Darmstadt.
- Friedrich Karl Alexander, margrave de Brandenburg, Onolzbach e Baireuth.
- Karl I, duque de Brunswicke seus três filhos:
- Friedrich August, MaximilianJulius Leopold, WilhelmAdolf.
- Karl, grão-duque de Meck1enburg-Strelitz.
- Karl, príncipe de Hesse-Kassel.
- Karl, príncipe de Courland.
São estes uns poucos dos que entraram para este malsinado Rito e, na Áustria, Itália,
França, Rússia e Suécia, podem ser encontrados membros da mesma classe.
Todos, além disso, eram grandes entusiastas do misticismo; e muitos deles eram
membros da entidade Rosa-cruz e de outras semelhantes que buscavam, todas,
dentro dos vários sistemas, aquela velha senda estreita que conduz à
sabedoria-;e não procuravam apenas um caminho, mas experimentavam todos que se
apresentassem. Um esboço dos principais espíritos desta interessante Ordem,
portanto, pode ser proveitoso e servir para dar daqueles espíritos uma idéia
mais clara ao leitor.
O mais importante personagem é Charles Gotthelf, Barão do Sacro Império Romano, de
Hund e Alten-Grotkare, nobre lusácio, nascido em 1722. Tomou-se, em 1753,
Camarista Real Polonês e Eleitor Saxão; e, em 1755, foi eleito para uma posição
superior entre os nomes da Lusácia Superior. A Guerra dos Sete Anos
ocasionou-lhe grande infortúnio, tendo seus estados sido ocupados e saqueados
pelos exércitos em luta. Ele próprio, aliado da Áustria, teve que fugir para
a Boêmia, onde permaneceu até o fim da guerra. O Rei Augusto da Polônia
indicou-{) para Conselheiro Privado em 1769 e Maria Thereza, nesse mesmo ano, indicou-o
para posto igual; ele, porém, não aceitou o posto de Viena, pois desejava
realizar uma reforma na Maçonaria.
Entrara para a Ordem Maçônica em 1742, quando estava em Frankfurt-am-Main.
Dizem que no ano seguinte estabeleceu uma Loja em Paris e que, estando com o exército francês, veio a
conhecer os chefes de um Rito que pretendia ser, em seus graus mais altos,
continuação da famosa Ordem dos Cavaleiros Templários. Segundo as reiteradas
declarações que fez e manteve até em seu leito de morte, foi recebido nessa
Ordem, em Paris, por Lorde Kilmamock, Grão-Mestre da Escócia e nobre jacobita,
tendo, nessa ocasião, Lorde Clifford oficiado como Prior. Foi apresentado a um membro
da Ordem mui altamente colocado, um personagem misterioso, chamado apenas "Cavaleiro da Pena
Vermelha", que talvez fosse o próprio Principe Charles Edward. Supunha von
Hund que ele era o Mestre Supremo da Ordem e por ele foi designado coadjutor da
Sétima Província da Ordem (Germânia Inferior). Hund visitou a Escócia, onde
o convidaram a dar início à Ordem na Alemanha, juntamente com o então Mestre
da Sétima Província, de Marschall, a quem sempre considerou como seu predecessor.
Marschall havia fundado as Lojas de Altenburg e Naumburg, mas só nesta última encontrou homens dignos de
serem conduzidos mais além, isto é, de serem recebidos nos graus dos Templários.
Ele não dava grande importância ao resto das Lojas alemãs, e voltando à
Alemanha (cerca de 1751) Hund entrou em contato com Marschall que, por
infelicidade, estava já muito doente e veio a morrer logo depois.
Antes de morrer, Marschall destruíra quase todos os papéis relativos aos Templários,
dos quais dera só alguns a Hund. Esperava este encontrar os rituais que
faltavam, etc., na loja de Naumburg, mas teve uma decepção. Mandou, pois, dois
irmãos dessa Loja à Inglaterra e Escócia, a fim de lá adquirir os documentos
que faltavam. Os irmãos voltaram, trazendo-lhe apenas a patente de Mestre da Sétima
Província, escrita em cifra - e nada mais.3 o escritor que ora resumimos
apresenta um relatório completo das disposições operacionais da Ordem e nos
revela que elas eram modificadas de tempos em tempos, conforme as condições
que pudessem surgir dos constantes ataques feitos a esta e a todas as outras
sociedades ocultas pelos grupo de materialistas da Alemanha, Herr von Biester e
colegas, que aqui já foram mencionados 4 e a que mais tarde será necessário
referir-nos novamente.
Existe outro esboço interessante, de Reghellini, sobre o Barão Hund, que diz o seguinte:
Em 1156, havia a guerra causado o abandono das Lojas (Maçônicas) da Prússia.
O Barão von Hund, que recebera
o Alto Grau dos Templários no Capítulo de Clermont, em Paris, ao retomar a
Berlim, declarou haver sido elevado à dignidade de Grão-Mestre dos Templários
por M. Marschall, que afirmava ser o sucessor de G :. G :. Mestre dos Templários,
por sucessão ininterrupta, desde os tempos de Jacques Molay; que Marschall, em
seu leito de morte, lhe havia delegado esta alta dignidade e o havia declarado
seu sucessor, transmitindo-lhe todos os seus poderes e dignidades. Não omitira
a entrega, a Hund, de uma lista com todos os nomes dos Grão-Mestres Templários,
a qual deve, portanto, contrastar curiosamente com a lista da Ordem do Templo,
de Paris. Hund colocou-se na chefia dos reformadores alemães: persuadiu-os de
que seu Rito havia de restaurar à Maçonaria :. seu antigo brilho e seu
primitivo esplendor; foi suficientemente ousado para estabelecer, à sua prórpria
custa, uma Loja em Kittlitz, perto de Lobau. Ao mesmo tempo, mandou construir
uma igreja Protestante. Foram os Irmãos Maçons desta Loja que lhe assentaram a
primeira pedra; e o Barão von Hund colocou sobre essa pedra uma placa de cobre
na qual registrou que suas opiniões maçônicas haviam sido gravadas e, se
excetuarmos a da continuação da Antiga Ordem Templária na Maçonaria:. à
qual ele especialmente pertencia (pois a fim de ser recebido no Rito dos aérigos
da Estrita Observância ele até se tornara Católico)s - se excetuarmos, como
dizíamos, esta opinião, acreditaremos que seus princípios eram absolutamente
filosóficos. Nas doutrinas do Eques Professus, no oitavo degrau por ele
acrescentado à sua escada Templária da Estrita Observância, ele sustenta que
esses Pontífices são os únicos Sacerdotes da Vera Luz, os Adoradores de Deus
e discípulos da pura dou trina de Jesus e João. 6
Muitos pormenores existem do trabalho realizado por von Hund, em seus esforços para
dar realce ao lado místico da Maçonaria;pormenores que podem ser encontrados
nos trabalhos de qualquer autoridade séria de História da Maçonaria e que não
podem, por falta de espaço, ser incluídos nestas páginas. A maioria das
autoridades maçônicas, como Keller, Rebold, Krause, Lenning, FindeI e outros,
concede que ele era pessoalmente ascético e, além disso, a absoluta
honestidade de seus propósitos, mas ele comumente é tido como ingênuo.
Passando para outro aspecto desta muito emaranhada teia da evolução maçônica,
descobrimos que por volta de 1770 acontecimentos de grande importância
divulgaram-se na Alemanha. O duque Ferdinando de Brunswick tomara-se maçom e
induzira o irmão, o duque reinante Carl, e a seus sobrinhos - filhos do duque -
a entrar para a Fratemidade Maçônica; e todos eles entraram para o Rito da
Estrita Observância. Nesta conjuntura surgiu também em cena Johann Augustus
Starck, uma personalidade, por todos os motivos, profundamente impressionante.
Estivera em S. Petersburgo de 1762-65, como professor de línguas orientais e era também
um grande estudante de teologia e filosofia. Starck ocupara muitos cargos públicos
de confiança e importância, entre outros o de intérprete de manuscritos
orientais, na Real Biblioteca de Paris. Viajara pela Inglaterra, Escócia, Itália
e Rússia, como pesquisador entusiasta do misticismo hermético e teosófico. Em
S. Petersburgo entrara em contato com o Sistema Melesino, hermético e teosófico
em seus princípios.
Starck era de opinião que as
tradições místicas dos Cavaleiros Templários, que eles haviam herdado de
fratemidades ainda mais antigas com as quais haviam tido contato no Oriente,
eram preservadas pelos clérigos da Ordem, que haviam cuidado de sua
continuidade sem interrupções até os dias do próprio Starck - e ele anunciou
que estava em comunicação com certos superiores, ou chefes da Ordem.
Nossa
conhecida autoridade inglesa, ao escrever sobre a Estrita Observância, diz:
Aos 17 de
fevereiro de 1767, alguns maçons, entre os quais pode-se mencionar os
principais, Von Vegesack, Von Bohnen e Starck, fundaram em Wismar a Loja dos
"Três Leões" e a esta acrescentaram uma Loja Escocesa,
"Gustavus do Martelo Dourado".
Pouco
tempo depois, adicionaram a estas uma entidade até então desconhecida, um
"Capítulo Clerical". A estes irmãos somos devedores pela ficção
histórica (sic) de que os Cavaleiros Templários eram divididos em
membros militares e sacerdotais; de que estes últimos possuíam todos os
segredos e conhecimentos místicos da Ordem; e de que conseguiram preservar a própria
existência até o século dezoito. Starck pretendia ser emissário dos Templários
Clericais, afIrmava a superioridade, deles e sua, sobre os Cavaleiros Seculares,
e oferecia, pelo reconhecimento de suas reivindicações, comunicar os valiosos
segredos daqueles a Von Hund e seus discípulos. Starck (1741-1816) era
estudante de Gottingen, homem de grande erudição e lingüista oriental de
grandes realizações, tendo preenchido cargos científicos em S. Petersburgo,
Paris, Wismar e em outros lugares.7 o autor desta obra - obra-padrão sobre a Maçonaria
– considera Starck um charlatão, embora não apresente provas disto, a não
ser suas próprias asserções - as quais são sustentadas por muitos críticos
materialistas modernos- de que não havia líderes ou
Superiores desconhecidos, de que a tradição era falsa e de que não existia
conexão real entre os templários e os maçons. Infelizmente, para muitos
destes críticos, essa tradição não estava "escrita nas estrelas"
mas preservada em pedras, e descobrimos que o eminente arqueólogo Barão Joseph
Von Hammer 8 demonstra a conexão entre os maçons e os templários. Ele remonta
às origens de ambos por meio de símbolos gravados que mostram a extraordinária
identidade entre os usados pelos maçons e os usados pelos templários, que
praticamente os torna idênticos em seu início, isto é, desenvolvidos a partir
da mesma cepa original de saber místico oriental - e quando chegar a hora de
apresentar um bosquejo da história dos Cavaleiros Templários, havemos de nos
valer destas pesquisas de seus registros monumentais, que provam a nascente
oriental de onde fluem as secretas tradições dos templários, justificando as
alegações das sociedades posteriores que basearam suas asserções na mesma tradição.
Presentemente devemos nos confinar à Estrita Observância e assim passarmos ao que disse Johann Starck
em seus escritos sobre o assunto. Uma de suas obras trata somente da acusação
instaurada contra a Estrita Observância e outras sociedades secretas, a saber,
de que elas derivavam da Ordem dos Jesuítas. 9
Ele foi atacado, particularmente por crer que os Cavaleiros Templários haviam tido uma
existência contínua durante quatrocentos e cinqüenta anos, sendo desconhecido
do grande público. A esta acusação replicou ele:
Se ele (Dr. BiesterlO) tivesse melhor conhecimento da história eclesiástica, havia de
ter encontrado não uma, mas diversas entidades religiosas que, sob opressão e
perseguição ainda mais Violenta que a suportada pelos Cavaleiros Templários,
continuaram a existir secretamente durante um período mais longo do que
quatrocentos e cinqüenta anos.
O ponto de vista de Starck foi sustentado por um escritor moderno importante que, ao falar
dos Templários, diz:
Considerando quão largamente a Ordem estendera seus ramos, obtivera a posse e afiliara
multidões de homens e mulheres, entre o laicato de toda a Europa, seria mera
absurdez crer que todas as suas tradições foram varridas de uma só vez, pela
supressão dos Templários no ano de 1307. 11
Encontramos este modo de ver sustentado um século depois de ter Starck escrito sua defesa
da tradição. Starck prossegue, aliás, a fim de mostrar quantos estudiosos
eram de opinião igual à sua. Escreve ele:
Grande é o número de estudiosos que entraram (para a Estrita Observância) e aceitaram a
opinião de que a ordem dos Templários continuara a existir durante
quatrocentos e cinqüenta anos, secretamente, é verdade, mas ininterruptamente!
Aí estão o Professor Diihmart em Grejfswalde, Eques ab abiete; Doutor e Professor
Rehfeld, Eques à caprea; Doutor e Professor Rólpen, Eques à tribus
specis; Professor e Pregador Ruhlenkamp, em Góttingen, Eques à gallo
cantante; Professor Schwarz, em Reval, Eques à rota; Professor Eck,
em Leipzig, Eques à noctua, etc.
Estes homens são eruditos e estudantes que ocupam cargos responsáveis e dificilmente
poderiam ser todos tolos ou charlatães. A falta de espaço não nos permite
acompanhar agora os argumentos apresentados por Starck, que mostrariam a
absurdez das acusações de jesuitismo, que eram livremente assacadas contra
muitas sociedades daquele tempo; devemos prosseguir, tratando das condições da
própria sociedade e até isto devemos investigar brevemente.
Ragon, ao mencionar a Estrita Observância, afirma que na Alemanha formou-se uma sociedade
de Maçons Reformados, ou antes:
Aproximavam-se mais de perto da verdadeira instituição que os maçons comuns. O estudo da
Cabala, da Pedra Filosofal e da Necromancia ou invocação dos espíritos era
sua principal ocupação, pois, segundo diziam, todas essas ciências formavam o
sistema, o objeto e fun dos antigos mistérios dos quais a Maçonaria é a seqüência. 12
Os estudos enumerados nesta citaç1ro parecem ter sido levados a efeito principalmente num
dos mais altos graus da Estrita Observância, chamado Gerici Ordinis
Templariorum. Este foi o ramo que se encarregou do estudo da Alquimia e que
esteve sob a direção especial da Starck, Herr von Raven e de outras pessoas
inteiramente consagradas ao lado místico da Maçonaria. Ragon apresenta as
seguintes diversões e graus nos quais era demarcado o Sistema:
1. Apprenti (Aprendiz) -
Simboliques. (Simbólicos)
2, Compagnon (Companheiro)
3. Maitre (Mestre)
4. Maitre ossais (Mestre Escocês)
5. Novice
6. Templier, divisé en 3 classes, sous les noms de (Templário dividido em 3 classes, sob o nome de)
Eques. Socius Armiger
7. Eques Professus. Nome acrescido pelo barão von Hund entre 1768 e 1770
Ragon 13 afirma igualmente que a maior parte dessa sociedade tornou-se Martinista e foi
conhecida mais tarde pelo nome de "Cavaleiros do Santo Sepulcro". Esta
modificação foi realizada na convenção de Lyon teve lugar em 1778. O duque
Ferdinand de Brunswick e o Barãovon Raven entraram também para esta divisão.
Um outro grupo tomou o nome de "Cavaleiros Beneficentes da Cidade
Santa" e nele encontramos dois místicos, o Conde de S1.Martin e Willermoz.
Será melhor adicionar neste ponto alguns pormenores sobre os Cavaleiros Templários,
desde que tão intimamente são ligados à Ordem Maçônica que mencionamos;
esses pormenores servirão, de igual modo, para manifestar o aspecto íntimo de
sua tradição. Muito se tem escrito sobre eles e sobre sua história - a qual,
sob certo aspecto, é melhor conhecida que a de qualquer outra organização mística,
salvo pelo fato de existir um ensinamento secreto que nele o fica
suficientemente esclarecido. Que havia uma doutrina secreta 14 entre os Templários,
ficou demonstrado por Neaf; 15 ele indica que os Templários consideram que a
Igreja de Roma falhou em seus ideais e que, por ocasião das perseguições terríveis
por que passaram, eles se dividiram e entraram para duas diferentes associações,
uma entidade de maçons e outra, uma entidade chamada "os Joanitas".
Outro escritor 16 refere a conexão entre templário se bogomilos, que eram os
maniqueístas das províncias balcânicas, e os gnósticos do primitivo período
cristã" o e seus descendentes, os cátaros dos tempos medievais. Dr.
Simrock 17 sugere uma idéia intensamente interessante com referência à conexão
entre a tradição do Santo Graal e os ensinamentos secretos dos templários;
ele, aparentemente, acredita que a tradição do Graal, que é extraída, em
algumas de suas partes, dos Evangelhos Apócrifos, é a base do ensinamento
secreto dos templários. Algumas das primitivas bases dessa tradição são
apresentadas pelo autor de Sarsena e igualmente pela conexão entre templários e essênios.
Todos esses liames são importantes, se desejarmos compreender a íntima conexão
entre essas várias organizações e saber como uma se desenvolveu a partir da
outra. Há um escritor que diz:
Tomando as regras de suas Ordens e das dos cristãos divididas igualmente, eles começaram
por traçar um paralelo entre os livros de Moisés e os registros dos Magos, e
com todo esse material formavam uma nova Fraternidade para a qual importaram
certas regras que poderiam existir juntamente com as dos cristãos. Houve,
durante as Cruzadas, ordens diversas, cujos modos de ver diferiam em larga
medida; e entre muitas outras, no ano de 1118, os Cavaleiros Templários, aos
quais se reuniram os Magos e a quem comunicaram seus princípios e mistérios. A
queda dos Templários e a total demolição da Ordem pelo ConcI1io de Viena, em
1311, deveram-se ao fato de que todo o conhecimento, que podemos considerar como
parte da Sabedoria dos antigos Magos, e também das Ciências Naturais, neste
tempo começara a se perder. Há uma seção de maçons que encontra na Maçonaria
a restauração da Ordem dos Cavaleiros Templários; e os sistemas da Grande
Loja Alemã e dos Irmãos Suecos estão com certeza preeminentemente ligados àqueles.
Segundo este sistema, e especialmente segundo todos os vários sistemas que
prevalecem nesta Ordem em particular, a Maçonaria é uma concepção mística
das principais doutrinas do cristianismo e o mestre chacinado não é outro senão
o Cristo! E aqui surge claramente a questão: havia nos ensinamentos de Cristo,
na verdade, mistérios, doutrinas inescrutáveis, incompreensíveis, que só
poderiam ser tornadas compreensíveis por pequeno número de discípulos
especialmente escolhidos; e não eram, porventura, os essênios a comunidade na
qual Ele aprendera aqueles mistérios, uma vez que os essênios exigiam dos
iniciados moderação, justiça, abstenção das injúrias, amor à verdade e
aversão ao mal? A água benta pertencia ao ritual de admissão ao seu mais alto
grau e João dissera, "Arrependei-vos e batizai-vos". Cristo, cuja
vida era impecável, passou pelo batismo. Não nos leva isto à conclusão quase
inevitável de que Cristo - e ainda mais João - eram adeptos iniciados dos essênios?
Houvesse documentos suficientes à nossa disposição, que provassem a verdade
histórica desta afirmação, seria perfeitamente óbvio o motivo pelo qual João
(o Batista), que deu o sangue pela Verdade e pelo Bem, teve de ser o escolhido
para Patrono da Ordem presente e de todas as que a precederam. A celebração do
Dia de São João Batista pelos Maçons, com um Festival, é aduzida em confirmação
da idéia de terem os maçons se identificado, por mais de seiscentos anos, com
os "Johannrittern" e de São João Batista ter sido escolhido para
Patrono de ambas as Ordens. E como é certo que grande parte do ritual da
formalidade de Recepção tem significado muito diferente daquele pelo qual foi
mais recentemente substituído, pode muito bem ser que alguma verdade existia
nessa afirmação. Pois é tão pouco verdade que os maçons se identificavam há
seiscentos anos passados com os "Johannrittem" como que eles agora
coroem o Mestre, Hiram, com real convicção. Cristo, como foi dito acima, não
fundou nenhuma sociedade secreta, e todavia anunciava seus ensinamentos apenas
gradualmente, naquilo que se referia ao seu significado interno, pois disse,
"Muito tenho que vos dizer, mas não o podeis suportar agora". Depois
de sua morte, falsificaram-lhe a pura doutrina com adições, mas todavia é
possível que sua prístina limpidez e singeleza tenha sido conservada - e onde
senão nalguma espécie de Ordem? Existia na primitiva Igreja Cristã uma disciplina
arcani, e deste modo eram os mistérios transmitidos entre uns poucos e
mesmo no tempo das Cruzadas havia ainda descendentes vivos dos essênios. A
Ordem dos Cavaleiros do Templo foi fundada no ano de 1113, por Gottfried von St.
Ornar, Hugo de Paiens e sese outros cujos nomes são desconhecidos. Eles
dedicaram-se ao serviço divino segundo a fórmula dos Canonicorum Regularium, e
fizeram votos solenes diante do Bispo de Jerusalém. Balduíno II, em consideração
pelo ofício destes sete servos de Deus, emprestou-lhes uma casa próxima ao
Templo de Salomão. Eles ligaram-se (conforme nos diz o autor do livro chamado Die
theoretische Brüder, V.S.V.) a certos essênios que formavam uma sociedade
secreta constituída de cristãos virtuosos e verdadeiros buscadores da Verdade
da Natureza, de quem aprenderam também os segredos. Que os Templários
conservavam mistérios sob sua guarda, está além da controvérsia. Havia na
Ordem cerimônias secretas de admissão, as quais ela orgulhava-se de possuir, e
por esta razão diversos membros suportaram o martírio. A Ordem dos Cavaleiros
Templários mantinha muitas das melhores e mais prudentes inteligências entre
os ancestrais da maçonaria, especialmente devotados à restauração dos Templários.
O sistema joanino e outros ensinavam esta ascendência, mesmo antes de a
"Estrita Observância" tornar-se conhecida e insistir na restauração
dos Templários como sendo o mais alto objetivo de seus mistérios. Se
considerarmos atentamente a semelhança entre os costumes de ambas as ordens,
perceberemos que a Recepção e outras cerimônias da Ordem da Maçonaria
relacionam-se com a dos Cavaleiros do Templo exatamente na medida em que nos
autorizam a dizer positivamente que os maçons preservam em seu meio os mistérios
dos Templários e os transmitem. Que os Templários possuíam segredos,
evidencia-se pelo seu próprio procedimento: os maçons reclamam para si esse
mesmo procedimento, pois grau após grau dizem ao Aspirante que mais tarde há
de ter ainda maiores experiências. Maiores? Também é segredo. Nove Irmãos
fundaram a Ordem dos Templários; o principal número hieroglífico dos maçons
é três vezes três. Os Templários oficiavam serviço divino em lugares
interditados. Pelas mais estritas observâncias, reservavam estes lugares para
si (ou deixavam-nos de lado) e apelavam para os direitos de seus antepassados.
Na organização geral, relata Roessler o seguinte:
Os Irmãos Templários eram, segundo seus estatutos como Irmãos do Hospital, divididos em três classes:
1. na classe dos serventes que, sem distinção, cuidavam dos peregrinos doentes e dos
Cavaleiros Templários;
2. na dos Irmãos espirituais, destinados ao serviço dos peregrinos;
3. na dos Cavaleiros que iam à guerra. Encontramos nas Instruções do Chevalier
d'Orient, onde são celebradas a fundação dos Cavaleiros Templários e a
divulgação de seus ensinamentos na Europa, a seguinte declaração sobre o assunto:
"Oitent a e um maçons, 18 sob a liderança de Garimonts, Patriarca de Jerusalém,
foram, no ano de 1150, à Europa e dirigiram-se ao Bispo de Vpsala, que os
recebeu com muita cordialidade e foi conseqüentemente iniciado nos mistérios
dos coptas, que os maçons haviam trazido consigo; mais tarde foi-lhe confiado o
depósito da coleção destes mesmos ensinamentos, ritos e mistérios. O bispo
esmerou-se por encerrá-los e escondê-los nas galerias subterrâneas da torre
das 'Quatro Coroas' a qual, nesse tempo, era a câmara do tesouro da coroa do
rei da Suécia. Nove desses maçons, entre eles Hugo de Paganis, fundaram na
Europa a Ordem dos Cavaleiros Templários; mais tarde receberam do Bispo os
dogmas, mistérios e ensinamentos dos sacerdotes coptas que lhe haviam
confiado”.Assim, dentro de pouco tempo, os Cavaleiros Templários tornaram-se
os recebedores e depositários dos mistérios, ritos e cerimônias que haviam
sido trazidas pelos maçons do Oriente - os Levistas da verdadeira luz.
"Os Cavaleiros Templários dedicavam-se inteiramente às ciências e aos dogmas
trazidos de Tebaida e desejavam, com o correr do tempo, preservar esta doutrina
de modo solene, por um penhor. Os Templários Escoceses serviram de modelo neste
assunto, pois haviam já fundado os três graus de Santo André da Escócia,
adaptando-os à lenda alegórica que se encontra nas instruções que a ela se referem.
"Os Templários Escoceses ocupavam-se em escava um sítio em Jerusalém, a fim de
nele construírem um templo e precisamente no ponto onde havia estado o templo
de Salomão - ou pelo menos a parte dele chamada o Santo dos Santos. Durante seu
trabalho encontraram três pedras que eram as pedras angulares do próprio
templo de Salomão. Sua forma monumental excitou-lhes a atenção; e seu
entusiasmo tornou-se ainda mais intenso quando encontraram o nome de Jeová
gravado nos espaços elípticos da última destas pedras - isto
que era igualmente um tipo de mistério dos coptas -, a palavra sagrada que pelo
assassínio do Mestre Construtor, fora perdida e que, segundo a lenda do
primeiro grau, Hiram havia feito gravar na pedra fundamental do templo de Salomão".
Depois de tal descoberta, os Cavaleiros Escoceses tornaram consigo estes
suntuosos monumentos e, a fim de eternamente preservar sua estima por eles,
empregaram-nos corno as três pedras angulares de seu primeiro templo em Edimburgo”. 19
Conta-nos ainda o autor que:
Os trabalhos começaram no dia de Sto. André; e os Templários que tinham ciência
desse fato, do segredo das três pedras e da palavra redescoberta, chamaram-se
Cavaleiros de Sto. André; designaram graus de merecimento que deviam alcançar
e estes, presentes nos graus de aprendiz, companheiro e mestre, são conhecidos
pelo nome de Pequeno Mestre-Construtor, Grande Mestre-Contrutor e Mestre Escocês.
Por meio da instrução comum a
todas as Ordens de Cavalaria, os cruzados estavam obrigados a fazer muitas
viagens e peregrinações, durante as quais dizia-se que eram rodeados de
perigos. Fundaram, por esse motivo, aqueles graus, a fim de que se pudessem
reconhecer uns aos outros e, em caso de necessidade, assistirem-se. Para estas
viagens, levavam sinais, palavras, apertos de mão e toques especiais e
transmitiam a todos os Irmãos um sinal principal, para que pudessem encontrar
socorro em caso de urna surpresa.
Os Cavaleiros, a fim de imitar os cristãos do Oriente e os sacerdotes coptas,
preservaram entre si a lei verbal jamais escrita e cuidaram para que
permanecesse oculta dos iniciados dos graus mais baixos. Tudo isto é preservado
com exatidão no rito filosófico de nossos dias, embora este rito não procure
precisamente remontar à origem dos Cavaleiros Templários.
Os Cavaleiros Templários avocaram sob seu governo as posses do Velho das Montanhas
e por haverem percebido a sobrenatural coragem de seus discípulos,
admitiram-nos na ordem. Alguns historiadores chegaram assim à opinião de que
os Cavaleiros Templários eram induzidos a aceitar as instituições daqueles
que admitiam. Gauthier von Montbar tinha ciência destes ensinamentos e os
transplantara para a Europa.
Todas estas circunstâncias eram prejudiciais à religião de Roma; perdeu muitos que
a ela pertenceram; mais especialmente, perdeu muitos cruzados que residiam
temporariamente na Síria, Palestina e Egito, onde todas as formas de crença
dos primeiros cristãos eram preservadas e toleradas pelos sarracenos.
Os cristãos do Oriente consideravam um mistério o dogma da unidade de Deus e o tinha como
manifestação divina. Transmitiam, portanto, seu conhecimento a esse respeito só
na ocasião da iniciação, a qual conservavam em grande sigilo. Praticavam a
moral enviada pelo Filho de Maria, mas não acreditavam na sua divindade; pois
todos os seguidores das tradições gnósticas e cabalísticas o consideravam
seu Irmão Mais Velho.
Os Cavaleiros da Cruz que haviam chegado a saber destes mistérios dos cristãos do
Oriente eram obrigados a, voltando à Europa, conservar esta iniciação em
maior segredo ainda, pois a menor suspeita de uma tal fé seria suficiente para
levar estes novos adeptos religiosos à tortura ou à fogueira. 20
Passaremos
agora aos modos de ver religiosos e filosóficos dos Cavaleiros Templários, que
resumiremos do Abade Grégoiree que deixam perceber o seu liame com os
ensinamentos gnósticos.
A Ordem do Templo é cosmopolita; divide-se em duas classes:
1. a Ordem do Oriente;
2. a Ordem do Templo.
A Ordem do Templo surgiu da Ordem do Oriente, da qual o berço foi o antigo Egito. A Ordem
do Oriente compreendia diferentes classes de adeptos. Os adeptos da primeira
ordem eram antes legisladores, juízes e pontífices.
Sua política opunha-se à
pregação de conhecimentos metafísicos e das ciências naturais, das quais se
constituíram os únicos depositários; e quem quer que ousasse revelar segredos
reservados aos iniciados na ordem da hierarquia sacerdotal, seria punido com a
mais funesta severidade. Davam ao povo apenas emblemas ininteligíveis, que
constituíam a teologia esotérica, que era um composto de dogmas absurdos e práticas
extravagantes, tendentes a acentuar a ascendência da superstição e consolidar o governo.
Moisés foi iniciado no Egito. Era profundamente versado nos mistérios teológicos, físicos
e metafísicos dos sacerdotes. Aarão, seu irmão, e os outros chefes hebreus
tornaram-se depositários destas doutrinas. Os chefes ou levitas dividiam-se em
diversas classes, conforme o costume dos sacerdotes egípcios.
Mais tarde, nasceu neste mundo o Filho de Deus. Foi educado na escola de Alexandria.
Repleto de um espírito absolutamente divino, dotado da mais maravilhosa inteligência,
conseguiu atingir todos os graus da iniciação egípcia.
Retomando a Jerusalém, apresentou-se aos chefes da Sinagoga e chamou-lhes a atenção
para as muitas alterações por que passara a Lei de Moisés nas mãos dos
Levitas; confundiu-os com o poder de seu espírito e a extensão de seus
conhecimentos; mas os sacerdotes judeus, cegos por suas próprias paixões, persistiram
nos seus erros.
Todavia, chegara o momento em que Jesus, dirigindo o fruto de suas meditações para a
civilização universal
e o bem estar do mundo, rasgou o véu que escondia ao povo a verdade e pregou o
amor ao próximo e a igualdade de todos os homens diante do Pai comum.
Finalmente, tendo consagrado por um sacrifício digno do Filho de Deus as
celestiais doutrinas que viera propagar, estabeleceu na terra para sempre, por
seus Evangelhos, a religião inscrita no Livro da Eternidade.
Jesus conferiu aos seus discípulos a iniciação evangélica, fez com que seu espírito
descesse sobre eles, dividiu-os em diferentes ordens, segundo o costume dos
sacerdotes egípcios e hebreus e colocou-os sob a autoridade de São João, seu
discípulo amado, o qual elevou a pontífice supremo e patriarca.
João jamais deixou o Oriente; sua doutrina, sempre pura, jamais foi alterada ou
mesclada de qualquer outra doutrina.
Pedro e os demais Apóstolos, ao contrário, levaram os ensinamentos de Jesus Cristo aos
povos distantes; mas sendo forçados, a fim de propagar a fé, a conformar-se
com as maneiras e costumes das diferentes nações, e mesmo a admitir ritos
diferentes dos Orientais, ligeiras modificações e mudanças insinuaram-se nos
diferentes evangelhos, bem como nas doutrinas das muitas seitas cristãs.
Até 1118, os mistérios e a ordem hierárquica da iniciação egípcia – transmitida aos
judeus por Moisés e depois aos cristãos, através de Jesus Cristo - foi
religiosamente preservada pelos sucessores do apóstolo João. Estes mistérios
e iniciações, regenerados
pela iniciação evangélica ou
batismo, formaram um depósito sagrado o qual, graças à simplicidade dos
costumes primitivos, dos quais os Irmãos do Oriente jamais se separaram, nunca
foram submetidos à menor alteração.
Os cristãos do Oriente, perseguidos pelos infiéis e apreciando a coragem e piedade daqueles
valentes cruzados que acudiam, com a espada numa das mãos e na outra, a Cruz,
em defesa dos lugares sagrados; e fazendo justiça, acima de tudo, às virtudes
e à caridade ardente de Hugo dos Payens, consideraram dever seu confiar a mãos
tão puras os tesouros de sabedoria adquiridos durante tantos séculos e
santificados pela cruz, os ensinamentos e a ética do Homem-Deus.
Hugo foi então investido no poder patriarcal e apostólico e colocado na legítima linha
dos sucessores de João, o Apóstolo, ou Evangelista.
Tal foi a origem da fundação dos Templários e da introdução entre eles dos diferentes
modos de iniciação dos cristãos do Oriente, designados pelo nome de cristãos
Primitivos ou Joanitas. É a esta iniciação que pertencem os vários graus
consagrados pelas regras do Templo e que tanto foram postos em dúvida pela
famosa e terrível questão instaurada contra esta Ordem augusta.
Jacques de Molay, prevendo os infortúnios que ameaçavam a Ordem, indicou como sucessor o
Irmão Jean Marc Larmenius, de Jerusalém, a quem investiu com plena autoridade
patriarcal e apostólica e com poder magistral.
Este Grão-Mestre passou o poder supremo ao Irmão Teobaldo de Alexandria, como fica provado pela
carta de transmissão, etc.
Passemos finalmente às
doutrinas Levíticas: - Deus é tudo que existe; cada parte do tudo é parte de
Deus, mas não é Deus.
Imutável na essência, Deus é mutável em suas partes, que, depois de existirem sob as
leis de certas combinações mais ou menos complexas, vivem outra vez sob leis
de novas combinações. Tudo é incriado.
Sendo Deus supremamente inteligente, cada uma das partes que o compõem é dotada de uma
porção de sua inteligência, em virtude de seu destino, do que se segue que
existe uma gradação infinita de inteligências, resultado da infinidade dos
diferentes compostos, cuja união forma a inteireza dos mundos. Esta inteireza
é o Grande Tudo, ou Deus, o qual apenas tem o poder de modificar, mudar e de
governar todas estas ordens de inteligência, segundo as eternas e imutáveis
leis de uma justiça infinita e infinita bondade.
Deus, o Ser infinito, compõe-se de três poderes: o Pai, ou Ser; o Filho, a Ação; o
Espírito, ou mente, que procede do poder do Pai e do Filho. Estes três poderes
formam uma trindade, um poder infinito, único e individual.
Existe apenas uma verdadeira religião, aquela que reconhece um único Deus, Eterno,
ocupando a infinidade do tempo e do espaço.
A Ordem da Natureza é imutável; portanto, todas as doutrinas que alguém possa tentar
construir sobre uma modificação destas leis seria fundamentada no erro...
A vida eterna é o poder de que é dotado todo indivíduo de viver sua própria vida e
adquirir uma infinidade de modificações, combinando-se incessantemente com
outros seres, segundo decretado pelas leis da eterna sabedoria, justiça e
bondade infinita da suprema Inteligência.
Segundo este sistema de modificação da matéria, é natural concluir que todas estas
partes têm o direito ao pensamento e ao livre-arbítrio e, portanto, o poder do
mérito e do demérito; por isso, não há mais nada daquilo que é chamado matéria
inorgânica; se, no entanto, alguma deve ser admitida, onde está o limite, por
exemplo, entre o que é de substância mineral, vegetal e animal?
Os altos iniciados, todavia, não professam a crença de que todas as partes da matéria
possuem a faculdade do pensamento. Não é assim que expressam a compreensão de
seu sistema. Admitem, certamente, uma série de inteligências, a partir da
substância elementar, da mais simples molécula, ou mônada, até a reunião de
todas essas mônadas e seus compostos, reunião que constituiria o Grande Tudo,
ou Deus, o qual, como Inteligência Universal, teria o poder de, só ele,
compreender a Si Mesmo. Mas o modo de ser, de sentir e usar as inteligências
seria relativo à ordem hierárquica na qual se encontram colocadas; conseqüentemente,
a inteligência se diferenciaria conforme o modo de organização e o lugar hierárquico
de cada corpo. Assim, segundo este sistema, a inteligência da simples molécula
seria limitada a procurar ou rejeitar a união com outras moléculas. A inteligência
do corpo composto de diversas moléculas teria outras características, segundo
o modo de organização de seus elementos e o mais alto ou mais baixo grau que
ocupa na escala' hierárquica dos compostos. O Homem, por exemplo, entre as
inteligências que fazem parte da terra, só ele teria aquela modificação ou
organização que plenamente daria a consciência do "Eu", bem como a
faculdade de distinguir o bem do mal, que, conseqüentemente, lhe
proporciona a dádiva do livre arbítrio.
Eis o sumário da versão apresentada pelo - Abade Gregóire 21 de alguns aspectos da filosofia
oculta professada pelos Cavaleiros Templários. Há nela um tom distintamente
oriental de pensamento, mesmo nestes fragmentos, que indicam claramente aos
muitos estudantes as fontes das quais nasceram estas tradições.
A Estrita Observância esforçou-se para reconstituir um ensino gnóstico, ao mesmo tempo
que procurava reviver as Tradições dos Templários.
Fonte: Maçonaria e Misticismo Medieval, Isabel Cooper-Oakley,
Pensamento
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