Constituição Progressiva dos 33 Graus do Escocismo
Papus
(Dr Gerard Encause) 33° 90° 96°
Não nos basta
conhecer o resumo da história dos diferentes Ritos. Precisamos penetrar
mais fundo no seu conhecimento e dar aos interessados pela Maçonaria
uma idéia do caráter de seus Ritos sob o ponto de vista da tradição.
Primeiro que tudo,
advertimos os leitores contra os estudos feitos pelos clericais. Já
temos falado de sua tendência em confundirem o Iluminismo e a Maçonaria.
Partindo de uma idéia preconcebida - a intervenção de Satã nas Lojas
- os escritores ligados ao clericalismo tem entremeado a análise dos
rituais maçônicos com subentendidos e reflexões pessoais os mais
grotescos. Com a aparência de análise imparcial, glosam de quando em
quando uni pequeno comentário destinado a extraviar o leitor confiante.
Procedendo assim, permanecem em seu papel, que conhecemos pessoalmente,
por experiência.
Vamos analisar as
transformações do ritual, lançando uma vista geral sobre a sua evolução
histórica.
O primeiro ritual
maçônico unindo os maçons do Espírito aos da Matéria, foi composto
por Irmãos Iluminados da Rosa-Cruz, dos quais os mais conhecidos são
Roberto Fludd e Elias Ashmole. ( * )
Chave dos graus simbólicos
APRENDIZ
Os três primeiros
graus foram estabelecidos sobre o ciclo quaternário aplicado ao decenário,
isto é, sobre a quadratura hermética do círculo universal.
O grau de Aprendiz
devia descobrir, ensinar e revelar o primeiro quadrante do círculo; o
grau de Companheiro, o segundo quadrante, e o grau de Mestre, os dois últimos
quadrantes e o centro.
A significação
atribuída pelo revelador a cada grau deriva diretamente da significação
total do círculo e de sua adaptação particular. Assim a adaptação do
círculo se refere ao movimento da Terra sobre si mesma. O primeiro
quadrante do círculo descrevera simbolicamente a partida da noite, das
seis as nove horas; o segundo quadrante, a ascensão das nove horas ao
meio-dia; e os dois últimos quadrantes, a descida para a noite, ou do
meio-dia a tarde.
Neste caso, o
Aprendiz será o homem da manhã ou do sol ascendente; o Companheiro, o
homem do meio-dia ou do sol meridiano, e o Mestre o homem do sol poente.
Se a adaptação
do círculo se refere à marcha aparente do Sol durante o ano, os seus
quadrantes corresponderão as estações e representarão,
respectivamente, a Primavera, o Verão, o Outono e o Inverno. O Aprendiz será então, o grão que brota; o Companheiro, a planta que
floresce; o Mestre, a planta que frutifica e o fruto que cai para gerar
novas plantas para a frutificação liberadora dos grãos nele contidos.
Cada uma destas
adaptações pode ser aplicada tanto ao mundo físico, como ao moral ou
espiritual. Portanto, compreende-se como os verdadeiros Iluminados
podiam realmente guiar os profanos chamados a Iniciação, para a luz da
verdade, para esta luz que ilumina todo homem procedente deste
mundo", para o vivente Verbo divino.
Mas para isso era
preciso que a chave fundamental e hermética dos Graus e da sua adaptação
fosse conservada por uma universalidade oculta. Tal era o papel que
estava reservado aos Rosa-Cruzes e aos Iniciados judeus-cristãos. Eles possuem estas chaves, de que
os escritores puramente maçônicos não
verão senão adaptações, e o presente trabalho, embora muito
resumido, abrira sobre este assunto os olhos daqueles que tem olhos para
ver.
Sob o ponto de
vista alquímico, os três primeiros graus representavam a preparação da obra: os trabalhos do Aprendiz figuravam os trabalhos materiais; os
do Companheiro simbolizavam a busca do verdadeiro fogo filosófico, e os
do Mestre correspondiam a colocação no athanor ( ** ) Esotericamente,
o fluído astral dos alquimistas. a sua "alavanca de
Arquimedes": exoterIcamente, o cadinho do alquimista. N. do T.
Com efeito, é
preciso não se aperceber das idéias e trabalhos dos Rosas-Cruzes
hermetistas para não ver que verdadeiros ocultistas estabeleceram seus
quadros iniciáticos segundo as regras estritas da adaptação de princípios,
e que a vingança de uni pretenso espoliado desempenhará apenas um
papel secundário no mister.
Vindo do círculo
do mundo profano, o Aprendiz voltará Para ali mais tarde, no estado de
Mestre, após haver adquirido a Iniciação. Assim é figurado o caduceu
hermético que da a chave real dos Graus simbólicos.
Martines de
Pasqually conhecia-a, como todo Iluminado, pois dividiu sua Iniciação
pelo quadrante do circulo.
Só se pode passar
de um plano para outro atravessando o reino da obscuridade e da morte;
tal é o primeiro ensino que indicam ao futuro Iniciado a "câmara
de reflexões" e os seus símbolos.
O Iniciado nada
pode empreender sozinho sob pena de graves acidentes; deve, pois,
contar, com o concurso de guias visíveis que já passaram pela experiência.
Tal é o ensinamento que se desdobra dos discursos e interrogações de
que participara o futuro Aprendiz, desde sua entrada em Loja.
Mas os
ensinamentos orais não terão nenhum valor sem a experiência pessoal;
tal é o objetivo das viagens e provas dos diferentes Graus.
COMPANHEIR0
O Aprendiz crê
sem mudar de plano. Ele passa dos trabalhos materiais aos trabalhos
concernentes as forças astrais. Aprende a manejar os instrumentos que
permitem transformar a matéria sob o efeito das forças físicas
manejadas pela inteligência. Aprende também que alem das forças físicas
existem forças de ordem mais elevada, figuradas pelo resplendor da
estrela; são as forças astrais que se lhe faz pressentir, sem as
nonicar, pela visão da estrela flamígera.
O Aprendiz se
toma, assim, Companheiro, sendo então instruído nos elementos da história
da tradição.
MESTRE
O Companheiro que
vai tornar-se Mestre, deve preparar-se para mudar de plano. Passará,
pois, pelo reino da obscuridade e da morte; mas desta vez passará
sozinho e sem ter necessidade de guia; fará conscientemente o que fazia
inconscientemente na câmara de reflexões.
Mas ele receberá
antes a chave dos três Graus e de suas relações, encerrada na Lenda
de Hiram e de seus três assassinos. Como demonstramos precedentemente (***), a adaptação solar da lenda não passa da adaptação de um
principio bem mais geral: a rotação do circulo no quaternário, com
suas fases de evolução e involução. Mas o que é preciso fixar por um
instante é que o Iniciado não vai somente ouvir esta lenda; ele vai vivê-la,
tornando-se o personagem principal de sua reprodução.
Aqui apareceu uni
processo bem notável, posto, em prática por Ashmole, que compôs o Grau
de Mestre em 1649 (os de Aprendiz e de Companheiro foram compostos
respectivamente em 1646 e 1648). Para ensinar ao Iniciado a história da
tradição de uma maneira verdadeiramente útil, vai-se-lhe fazer revivê-la.
Tal será a chave dos Graus ulteriores e de seus rituais. Tal é a
constatação que é necessário ter-se sempre em mente ao tratar de
reformar os rituais visando adaptá-los a novas épocas, mas sem se
afastar de seus princípios constitutivos.
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