A Maçonaria é uma Instituição universal, reservada, parcialmente secreta, de
princípios iniciático-filosóficos. Segue uma simbologia e uma ritualística
que envolve juramentos sigilosos. Apesar de possuir regulamentos conhecidos, não
significa, como defendem alguns setores, que seja uma sociedade “discreta”.
O Simbolismo e seus significados são ocultos para o mundo profano, e até mesmo
para muitos, e porque não dizer, para a maioria dos Maçons. Seguindo essa
ordem de raciocínio, podemos classificar a Maçonaria como uma sociedade
Secreta, muito embora se possa encontrar bibliografia maçônica em qualquer
livraria ou sebo.
Para uma melhor compreensão do tema, é importante ver o dizem nossas Leis básicas,
que são os Landmarks e a Constituição de Anderson.
O 23º Landmark, da compilação de Mackey, refere-se ao sigilo dos mistérios
e práticas maçônicas. Este Landmark prescreve a conservação secreta dos
conhecimentos havidos pela Iniciação assim como os métodos de trabalho, as
Lendas e Tradições, que somente poderão ser comunicadas a outros IIr.:
Nicola Aslan, em sua conhecida obra Landmarks e Outros Problemas Maçônicos, assim
comenta este Landmark: “Não é certo que a Maçonaria seja uma sociedade
secreta, pois entende-se por sociedade secreta aquela cuja existência é
ignorada e cujos membros são desconhecidos. Mas é um Landmark que os segredos
da Maçonaria não se devem divulgar.”(grifos nossos). Seguindo esse
raciocínio, não poderiam existir sociedades secretas conhecidas, pois suas
existências são desconhecidas, assim como seus membros.
Ainda segundo Nicola Aslan, apenas alguns Landmarks podem realmente ser
considerados com tal, e entre eles está o trabalho secreto das Lojas e a proibição
de divulgação dos Segredos da Maçonaria, o que, por si só empresta à Maçonaria
seu caráter secreto.
A Primeira Edição do Livro das Constituições, na parte concernente às
regras de conduta que devem ser observadas diante daqueles que não são Maçons,
recomenda que “os Maçons devem ser circunspectos em suas palavras e obras, a
fim de que os profanos, ainda os mais observadores, não possam descobrir o que
não seja oportuno que aprendam.”
Por seu turno, a Declaração de Princípios das Grandes Lojas Brasileiras, em seu
art. 6º, aliena ‘a’, exige e considera essencial e indispensável o sigilo
absoluto.
Também os Regulamentos Gerais da Ordem consideram infrações maçônicas graves
revelar segredos da Ordem (sinais, toques e palavras), a quem estiver impedido
de recebê-los, bem como violar juramento prestado, traindo os princípios,
dogmas e credos da Ordem. Segundo esses mesmos Regulamentos, comete infração
no grau de violação de juramento quem revela, sem autorização, rituais,
cerimônias e outros mistérios, protegidos pelo segredo maçônico, ou revela
fato ou assunto tratado em Loja, não gravado em Balaústre, ou discute
publicamente, no mundo profano, as deliberações da Loja ou atos passados no
interior do Templo. A pena para essas infrações pode ser até a exclusão da
Ordem, tal a gravidade atribuída à quebra do Sigilo Maçônico. Essas regras são
comuns a várias Obediências, em sua essência.
Como se nota, existem inúmeras razões para se classificar a Maçonaria como
Sociedade Secreta. A existência de um método de reconhecimento de seus
membros além de vários ensinamentos que só se comunicam aos que passaram por
um ritual de iniciação — indispensáveis para que se reconheça um Ir.: como
Maçom —, atestam esta afirmativa. Esta índole secreta é inerente à Maçonaria
desde a sua fundação e está assegurada em seus antigos Landmarks. Se a
despojarmos desse caráter secreto, por certo deixaria de ser Maçonaria para
ser mais uma entidade ou instituição filantrópica e humanista, mas não Maçonaria,
pois lhe faltaria um elemento caracterizador essencial: o sigilo. Todavia, nem
tudo na Maçonaria é segredo, uma vez que seus propósitos e finalidades são
de domínio público e os Maçons podem exibir sua condição publicamente como
tal. Logo, há coisas que se pode revelar a profanos e outras que não se pode
revelar. Nem tudo é mistério. Mas isso, não basta para caracterizar a Maçonaria
como uma sociedade discreta, pois sua razão de existir, ou seja, seus
ensinamentos, são sigilosos e secretos, transmissíveis apenas aos seus
iniciados.
É importante referir que a palavra iniciação vem do Latim initiatio, de initiare,
e designava, entre os romanos, a admissão nos mistérios de seus ritos secretos
e sagrados. Durante a Antigüidade havia duas espécies de Iniciação,
denominadas de pequenos e grandes Mistérios. A primeira se referia a uma
compilação das ciências ditas elementares e de princípios gerais do
Ocultismo. A segunda, a Iniciação dos Grandes Mistérios, abrangia a metafísica
das ciências, assim como a prática da Arte Sagrada, ou seja, todo o conjunto
das ciências denominadas ocultas.
No Ritual de Iniciação é dito ao profano, pelo Ven.·..·.
Mestr.·., que toda associação tem leis
particulares e todo associado deveres a cumprir. Então o Ven.·.
determina ao Ir.·. Orad.·.
que exponha ao profano a natureza desses deveres.
Diz então o Ir.·. Orad.·.
“O primeiro de vossos deveres é o mais absoluto silêncio acerca de tudo quanto
ouvirdes e descobrirdes entre nós, bem como de tudo quanto, para o futuro,
chegardes a ouvir, ver e saber.”
Esse primeiro dever é exageradamente rigoroso, todavia, a fórmula do juramento que
é revelada ao candidato é um pouco mais flexível:
“Juro guardar o mais profundo silêncio sobre todas as provas a que for exposta minha
coragem”.
Vemos que aí, o sigilo refere-se às provas, à prática maçônica, e não a tudo o
que vier a ver, ouvir e saber.
No Juramento, propriamente dito, o candidato se compromete a nunca revelar
os mistérios da Maçonaria que lhe serão confiados, senão em Loja
regularmente constituída, nunca os escrever, gravar, traçar, imprimir, ou
empregar outros meios, pelos quais possa divulgá-los. E o juramento, por
comprometer de forma definitiva aquele que o presta, empresta à Maçonaria seu
caráter secreto e sigiloso, sob pena de se cometer perjúrio.
Somente após o candidato prestar o juramento de segredo é são comunicados os segredos
do Grau de Apr.·. M.·.,
ou seja os sinais, os toques e as palavras que permitem aos Maçons o
reconhecimento entre si.
Não obstante os juramentos
iniciáticos, Jules Boucher, autor de importantes
obras sobre as ciências secretas, defende a opinião de que os segredos maçônicos
devem ser compartilhados com os profanos, pois dessa forma, segundo o citado
autor, a Maçonaria passará a ser encarada em sua verdadeira essência. Parece
que tal posicionamento na verdade desvirtua a verdadeira essência maçônica,
até porque, correríamos o sério risco de reconhecer um profano como Ir.·.,
já que nossos mistérios e segredos iniciáticos estariam ao alcance de
qualquer um, tenha ele boas ou más intenções, em relação ao seu uso. As
conseqüências daí resultantes são imprevisíveis.
Acreditamos que o fato de a Maçonaria ter dois aspectos distintos o Exotérico e o Esotérico
faz com que as discussões sobre o Sigilo Maçônico não obtenham uma
unanimidade, ou pelo menos, uma orientação única.
O aspecto exotérico (jurídico) lhe assegura a qualidade de sociedade civil e
trata dos meios de organização da Instituição, seus regulamentos e princípios,
que são públicos e de conhecimento geral. Essa característica faz com que
certos setores considerem ser nossa Instituição apenas discreta.
Mas a característica mais importante da Maçonaria é o seu aspecto esotérico, que
lhe confere seu perfil de associação moral e espiritual, o que vem a ser a
verdadeira razão de ser da Instituição Maçônica. Aí estão incluídos seus
Ritos, Liturgia, bem como o ensino simbólico e filosófico, que devem, por força
do Juramento Iniciático, serem cobertos das indiscrições profanas.
BIBLIOGRAFIA
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da Editora, Londrina – PR, Ed. Maçônica "A Trolha", 1995, 384 p.
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Arthur Aveline, Comp.·. M.·.
ARLS Dos Obreiros da Arte Real nº 154 – REAA – GLMERGS
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