Origem do lema
As três palavras .·. Liberdade,
Igualdade e Fraternidade .·. que se tornaram, praticamente, um lema da Maçonaria
contemporânea, não têm origem maçônica. Alguns autores, mais ufanos do que
realistas e mais fantasistas do que científicos, afirmam que o lema é maçônico
e foi utilizado como divisa da Revolução Francesa de 1889.
A verdade histórica, todavia, é bem outra:
Em primeiro lugar, o lema da
Revolução Francesa era "Liberté, Égalité, ou la Mort" (Liberdade,
Igualdade, ou a Morte). Só com a 2a. República, em 1848, é que ele iria se
transformar em "Liberté, Égalité, Fraternité" (Liberdade,
Igualdade, Fraternidade). (Ver nota)
Em segundo lugar, foi a Maçonaria
francesa que, na segunda metade do século XIX, adotou o lema da 2a. República,
o qual acabaria se vulgarizando entre os maçons que trabalhavam sob influência
da cultura francesa, em todo o mundo, a ponto de chegar a ser considerado como
uma divisa exclusivamente maçônica, o que não é.
Em terceiro lugar, a idéia de
Liberdade, Igualdade e Fraternidade é bem mais antiga.
Podem ser encontrados vestígios dela, quando da criação da primeira seita
comunista, dita "Comunismo Cristão", fundada em 1694, por Johann
Kelperès. Para os membros dessa seita, o Messias aguardado não se apresenta
como o pescador de almas, mas, sim, através de uma trilogia , onde ele é o
"distribuidor de justiça"(igualdade), o "grande irmão"
(fraternidade) e o "libertador"(liberdade).
Análise e significado
A análise da divisa, ou da
trilogia, pode ser feita através do prisma político-social, ou sob o ponto de
vista exclusivamente iniciático. No primeiro caso, teríamos:
Do ponto de vista
político-social:
A igualdade constitui um
ideal da organização social, pela qual lutou a humanidade, à medida que ia
avançando no caminho de sua evolução. Essa luta dura até hoje, porque a
divisão das nações, em sistemas políticos, das comunidades, em classes
sociais, e dos indivíduos, em posições econômicas, morais e intelectuais,
prejudicam os esforços em benefício da igualdade irrestrita.
A fraternidade é
considerada como a conduta que norteia a vida de um indivíduo. Ela é desejada,
reclamada e fixada como objetivo de todas as religiões, instituições sociais,
partidos políticos, etc. , estabelecendo o altruísmo contra o egoísmo, a
benevolência contra a malevolência, a tolerância contra a intolerância, o
amor contra o ódio.
A liberdade nasce com o
indivíduo, atinge o consciente coletivo dos povos e produz fatos extraordinários.
O sentimento de liberdade é o bem mais caro ao coração de um homem; e não há
nada que o deprima tanto quanto a opressão da escravidão, o encarceramento da
consciência e a privação da liberdade.
Do ponto de vista
iniciático,
todavia, o conceito é um pouco diferente:
A igualdade repousa sobre a
consciência da identidade básica de todos os seres e de todas as manifestações
do espírito humano, acima de todas as distinções externas de posição social
e de grau de conhecimento e de desenvolvimento intelectual. Essa igualdade ,
representada pelo Nível, é que proporciona, a todos, uma justa e reta maneira
de conduta com todos os semelhantes.
A fraternidade é
considerada o complemento da liberdade individual e da igualdade espiritual, das
quais representa a adoção prática. Em síntese, é a tolerância, em relação
à
liberdade, e a compreensão, em
relação à igualdade.
A liberdade é definida
como uma aquisição individual, íntima, fundamentalmente independente da
liberdade externa, que pode ser outorgada pelas leis e pelas circunstâncias da
vida. Em resumo, é a liberdade que se adquire buscando a Verdade e realizando
esforços para trilhar o caminho da virtude, dominando os vícios, os hábitos
negativos e as paixões destrutivas.
A interpretação astrológica
A Igualdade é o símbolo
de Libra, ou Balança. Este signo é o símbolo universal do equilíbrio,
da legalidade e da justiça, concretizados pelo senso da diplomacia e da
cortesia, que o caracterizam, assim como a aversão à agressividade e à violência
de Áries, que está diante dele.
Libra significa, em última análise, um caráter afável, um sentido de justiça,
harmonia e sociabilidade , que são, todos, atributos da igualdade.
A Fraternidade é
perfeitamente ilustrada pelo signo de Gêmeos, em sua dualidade ,
representado por dois gêmeos, que são os míticos Castor e Pólux, cada um
desempenhando seu papel, sem nenhuma proeminência sobre o outro. O signo de Gêmeos
é dual, porque simboliza o momento em que a força criativa de Áries e Touro
divide-se em duas correntes: uma tem sentido ascensional , espiritual, e a outra
é descendente, no sentido da multiplicidade das formas e do mundo fenomênico.
Considere-se, também, que, face a Gêmeos, está Sagitário, governado por Júpiter,
Zeus, Deus, do qual todos os homens emanam, o que os faz irmãos uns dos outros,
com
cada um procurando-o, à sua maneira.
A Liberdade é apanágio de
Aquário, simbolizado por Ganimedes, pelo anjo derramando, sobre a
humanidade, o cântaro do saber ; saber, que, se for bem utilizado, pode ser um
meio de acesso à liberdade, com a condição de que aceite a superioridade do
iniciado. Só o iniciado , o sábio , poderá reconhecer os limites além dos
quais não poderá ir, pois esta é a maneira dele chegar ao conhecimento dos
mistérios divinos. Essa ligação com o divino, da qual Moisés é um símbolo,
o respeito às leis divinas, fundamental para uma existência pacífica e
harmoniosa, serão, também, assinalados pelo signo frontal a Aquário: Leão,
cujo símbolo é o Sol; o Sol, símbolo
do UM, símbolo de Deus.
Esses três signos, Libra, Gêmeos
e Aquário, são os signos do ar do zodíaco. E os signos do ar são símbolos
do espírito, são símbolos do cosmos, que o iniciado deve procurar conhecer e
compreender.
NOTA - Alec Mellor, respeitadíssimo pesquisador francês, afirma
que é inteiramente falso que essa divisa republicana seja de origem maçônica.
Louis Blanc e outros autores pretendem que seu inventor tenha sido Louis-Claude
de Saint-Martin, mas o historiador mais abalizado da vida e do pensamento deste,
Robert Amadou, demonstrou que isso não é verdadeiro.
A pesquisadora B.F. Hyslop
examinou uma grande quantidade de diplomas maçônicos publicados entre 1771 e
1799, na Biblioteca Nacional de Paris, e não encontrou mais que dois, somente,
onde as três palavras estão reunidas. Quase todos registram "Saúde - Força
- União", ou falam do templo onde reina "o Silêncio, a União e a
Paz". O resultado desse estudo está publicado in "Annales Historiques
de la Révolution Française" - janeiro, 1951, pag. 7.
A 1a. República conheceu bem a
divisa "Liberdade, Igualdade, ou a Morte", mas tal programa ideológico
não foi jamais o da Maçonaria. Foi somente sob a 2a. República que a "tríplice
divisa" surgiu. Mas não foi a República que tomou emprestada a divisa à
Maçonaria,
mas, sim, a Maçonaria é que a
tomou emprestada à República (in Dictionnaire de la Franc-Maçonnerie et des
Francs-Maçons" - Belfond - Paris - 1971) .
Extraído do livro "Maçonaria
e Astrologia"
Editora Madras – S. Paulo – 1998 |