Nos chamados Ritos Teístas,
o juramento substitui o compromisso adotado pela Maçonaria Moderna.
Esta prática de
"jurar" vem dos antigos maçons medievais e o juramento
conservado na maioria dos Ritos Contemporâneos, tem permitido um
constante ataque à Instituição. Apesar das variantes, permanecem as
ameaças e críticas a este sistema teológico.
Na segunda edição
de 173O da Masonry Dissected, de Samuel Pichard, temos:
"Prometo e
juro solenemente aqui e na, presença de Deus Todo Poderoso e diante
desta respeitável Assembléia a qual reverencio, que manterei oculto e
não revelarei os segredos dos maçons nem da Maçonaria que me serão
revelados, a não ser que seja para um verdadeiro e leal Irmão, depois
da devida comprovação ou em Loja Justa e Perfeita, na qual reúnem-se
os Irmãos e Companheiros".
Ademais prometo não
escrever, imprimir, gravar, etc. sobre madeira ou pedra, de tal maneira
que qualquer vestígio de uma letra possa aparecer, permitindo que o
segredo seja revelado de forma ilícita.
Tudo isto sob pena
de ser degolado, minha língua arrancada, meu coração extirpado pelo
lado esquerdo para depois ser enterrado nas areias do mar, a determinada
distância da praia, quando a maré efetue seu fluxo e refluxo duas
vezes em 24 horas; que meu corpo seja reduzido a cinzas e espalhadas
sobre a face da terra, de tal modo que não reste a menor lembrança
minha, entre os maçons. Que Deus me ajude." (1)
Esta forma teatral
tinha por finalidade gravar no inconsciente do candidato as suas
responsabilidades e deveres, numa época em que a prática civil e
criminal assim o estabelecia.
Na introdução ao
nosso trabalho "Maçonaria - Um Estudo da sua História",
afirmamos:
"Na realidade
esta fórmula de Juramento era exigida pelo Direito Inglês, pelos idos
dos séculos XVII e XVIII. O perjúrio deveria ter queimadas as
entranhas atiradas ao mar, etc". (2) O próprio Anderson, na
segunda edição das Constituições - 1738 - esclareceu o propósito
das ameaças, deixando claro que a solenidade do juramento nada
acrescentava à obrigação, ou seja, o juramento obrigava por si só,
existisse ou não a penalidade. (3)
Fica claro que o
segredo e o juramento remontam à Maçonaria Operativa, acorde com os
costumes profanos da época, atitude esta continuada em 1717.
Quando juramos
estamos invocando a divindade como testemunha. Este juramento pode ser
assertivo quando procura atestar a veracidade de Uma declaração, ou
promissório, quando atesta que alguém cumprirá uma promessa.
Parece ser um
antigo costume adotado pela Maçonaria teísta jurar com o mão
levantada
Levanto minha mão ao Senhor Deus Altíssimo, Senhor do Céu e da
Terra". (4)
Introduzir-vos-ei
na terra que com mão levantada, jurei dar a Abraão, a lsaac e a Jacó
e vo-la darei em possessão hereditária. Eu, o Senhor".(5)
"Na verdade
ao céu levanto a minha mão e digo: "Eu vivo eternamente!"(6)
Felizmente não adotamos o juramento solene prestado com a mão do
promitente sobre os órgãos genitais do outro, considerando a fonte da
vida, um objeto sagrado:
"Disse Abraão
ao servo mais antigo de sua casa, o administrador de todos os seus
bens" Põe, te rogo, a tua mão debaixo da minha coxa, e jura-me
pelo Senhor, Deus do céu e da terra..." (7)
"Sentindo
Israel avizinhar-se-lhe o tempo de morrer, chamou a si o seu filho José
e disse-lhe: Se encontrei favor aos teus olhos, põe a tua mão debaixo
da minha coxa, e promete usar comigo de benevolência e fidelidade; por
favor, não me sepultes no Egito".(8)
Em Mateus,
finalmente, é possível encontrar a idéia de que numa sociedade
regenerada não há lugar para juramentos, pois a palavra de um homem é
suficiente, e eu diria: principalmente a de um livre pensador moral
ilibada e de bons costumes.
Atestando Mateus:
"Ouvistes mais que foi dito (aos antigos.- Não jures falso, mas
cumpre os juramentos feitos ao Senhor Eu, porém digo-vos que não
jureis de modo nenhum, nem pelo céu, que é o trono de Deus, nem pela
Terra, que é o escabelo de seus pés, nem por Jerusalém que é a
cidade do Suíno Rei. Nem jures pela tua cabeça, porque não podes
tornar branco ou preto um só cabelo. Seja, pois, o vosso falar.Sim,
sim, não, não, porque tudo o que passa disto procede do maligno.
" 9
Portanto, se o próprio
livro da Lei Maçônica nos apresenta uma interpretação clara sobre a
impropriedade do juramento, por que não adotar, plenamente, o
compromisso como recomenda a Maçonaria Moderna?
Parece-nos,
infelizmente, que a opinião dominante situa-se na direção oposta a
esta recomendação. Vejamos um exemplo:
Compromisso e, a
promessa recíproca, o ajuste, o acordo, o contrato, o regulamento de,
uma confraria Algumas obediências e Ritos Maçônicos costumam
substituir a palavra juramento por compromisso, nos trabalhos de, Loja
ou da Obediência Não procede, todavia tal alteração, pois juramento
é, unilateral enquanto que compromisso envolve reciprocidade; quando um
candidato faz o seu juramento está, aceitando deveres para com a Ordem
não existindo a recíproca (10)
Justamente por
entender que a promessa recíproca existe entre o recipiendário e - a
Ordem - a Luz em troca do serviço desinteressado - é que a Maçonaria
Moderna concorda com o pressuposto evangélico de que a palavra de um
homem é suficiente.
Mas contundente
ainda são os argumentos éticos a favor do compromisso no lugar do
juramento, pois a idéia de comprometer se liga ao conceito
existencialista de filosofia. Pode ser aplicado em um sentido amplo,
como fundamento de toda existência humana e, igualmente, num sentido
mais estrito, corno elemento fundamental do filósofo.
Estes dois
conceitos estão interligados, pois não podemos dissociar o interesse
do filósofo da existência humana
Comprometer-se
filosófica ou maçonicamente, pois somos filósofos, na medida em que
amamos a sabedoria, significa vincular intimamente a teoria com a prática:
glorificando o trabalho com o desbaste da pedra bruta.
Recusar assumir o
compromisso significa opor-se ao solicitado, recusando-se, portanto, a
aceitar o ajuste, o polimento da mesma pedra.
Nenhum maçom
deve, enquanto tal, se comprometer, a menos que tenha compreendido a
totalidade das proposições.
Apenas a título
de exemplo histórico devemos nos lembrar de que a Constituição dos
Estados Unidos nasceu do Grande Compromisso da Convenção de Filadélfia,
e não de um juramento prestado por seus notáveis ideólogos, e ninguém
duvida de que a América era uma terra de virtuosos protestantes.
Fundamentalmente o
compromisso deve ser entendido, racionalmente, como um consentimento,
uma troca de concessões entre as partes, ou seja, um acordo. Eu me
comprometo a servir pela minha tenure (11) pa com a Ordem em troca da
Luz, da Iniciação Maçônica.
Está em questão,
portanto, este controvertido aspecto da Arte Real. A palavra final é
sua.
NOTAS
1. RICHARD, S.
Masonry Fissected, being an universal and genuine description of all its
Branches, from the Original to the present time as it delivered in the
constituted regular Lodges, both in City and Country London, Byfield and
Haw Keswith, 1730, pág 12 In: Benimelli Masoneria, Iglesia e
Ilustracion Vol 1, págs. 63/64 Fundacion Universitária Española
Madrid, 1982.
2. COSTA, Frederico Maçonaria - Um Estudo de sua História Ed. Maçônica
Trolha Londrina - Pr 1990.
3. MELLOR Alec Citado por Benimelli, op. cit., pág 67.
4. Gênesis, XlV, 22.
5. Êxodo VI, 8.
6. Deuteronômio, XXXII 40.
7. Gênesis, XIV 2, 3.
8. Gênesis, XLVII, 29.
9. Mateus V. 33, 34, 35, 36 e 37.
IO. CASTELLANI, J. Dicionário Etimológico pág 125. Editora
"Trolha". Londrina - Pr 1990
11. Dependência. "Influência dos Antigos Símbolos na Maçonaria
Atual"
Ir.·. Frederico Guilherme Costa |