O homem é um animal essencialmente político.
Nesta frase
singular temos o termo "político" na sua essência. Político
é aquele que vive em (poli) comunidade. Não cuidava Sócrates de política
partidária, pois, tal estrutura ainda não existia, pois, todo o
"cidadão" tinha acesso à Tribuna. E, através da palavra o
cidadão estabelecia o elo de ligação entre a liberdade e a
democracia.
A liberdade é a realização de poder fazer, alcançada pela expressão da vontade. A
Democracia, por sua vez, é o poder fazer dentro da expressão da
vontade coletiva. Pode-se "fazer" porque, assim, todos e desta
forma querem que se faça e que seja feito. Daí nasce o ordenamento jurídico,
que limita a liberdade e o poder fazer não só do cidadão como também
dos dirigentes. E, por ser fruto da vontade coletiva, embora restrinja,
não elimina a liberdade. Surge, assim, a coisa pública ou a "ré"
(coisa) + "publica" (de todos), ou seja, o interesse público
ou coletivo.
Assim, a
responsabilidade pela "coisa pública" é do cidadão. Toda
vez que o "cidadão" se omite do exercício dessa
responsabilidade ele está renunciando os princípios da
"liberdade" e da "democracia", e da normalidade jurídica
e institucional. Esta renúncia promove a instalação de governos
tiranos, das chamadas ditaduras, onde a vontade de uns poucos se sobrepõe
ao direito da maioria.
As ditaduras foram
instituídas pelo "poder da força", geralmente das forças
armadas. Todavia, muitas vezes elas foram instaladas por outras forças,
como, por exemplo, pela força de superstições e da manobra
intelectual.
A Maçonaria
historicamente, nos últimos três séculos, lutou bravamente contra as
ditaduras e foi porta-voz dos brados nacionalistas. Lutou contra todo o
tipo de opressão imperialista. No último século "(1900), no
Brasil especialmente, ela se aquietou. Nunca teve a Maçonaria um
"partido político" mas ela sempre foi detentora de ideais políticos
(libertação: inconfidência mineira, farroupilhas, independência do
Brasil e proclamação da república; abolição: lei do ventre livre,
Lei dos Sexagenários, Lei Áurea). Na História do Brasil podemos assim
estabelecer os dois grandes movimentos (ideais políticos). Sobre estes
ideais mobilizou-se a Maçonaria e, através dos Maçons, conseguiu os
resultados de que tanto nos orgulhamos.
Assim, os Maçons
de hoje, por defenderem, como os de outrora, os ideais de liberdade, de
igualdade e de fraternidade, têm o dever de não renunciar os princípios
de "liberdade", de "democracia" e de "república",
sob pena de renunciar a própria cidadania. E, sendo o Maçom
essencialmente um "cidadão", pois dele se exige que seja
completamente "livre" e que tenha como timoneiro de sua vida
os princípios das "virtudes". Assim, politicamente, pode-se
dizer que o "Maçom é o político essencialmente livre e de bons
costumes", que na sua atuação política (comunitária), propugna
pelos ideais de liberdade (democracia plena), igualdade (justiça
social) e fraternidade (realização coletiva).
Não se pode fazer
uma sociedade mais justa e mais fraterna a não ser com dirigentes mais
justos e mais fraternos. Assim, reserva a Maçonaria para seus adeptos o
dever de serem líderes de sua coletividade. E, toda vez que um Maçom
recusa de exercer seus deveres, na linguagem de sua Iniciação,
torna-se um perjuro. E, nós Maçons Brasileiros, por problemas de política
interna, estamos a quase um século em perjúrio. Pois, deixamos de
debater em nossas Lojas os problemas nacionais e por isso deixamos de
agasalhar bandeiras de lutas, que representem o interesse maior de nossa
Pátria, de nosso Estado ou de nosso Município. As Lojas, dada a difusão
de opiniões e de formação intelectual de seus membros, deveriam ser
as caixas de ressonância da opinião da municipalidade, e, por elas se
cuidar apenas dos interesses da coletividade (poli) e estarem, ali,
alheios os interesses pessoais de seus membros, deveriam ser o fórum
capaz de oferecer soluções aos nossos problemas, que são graves e
muitos.
Somos, em geral,
algozes críticos de nossa atuação. Todavia, não apresentamos sugestões,
ficamos apenas no lamento e na decepção. Isto é, porque sempre
pensamos em grandes realizações e não compreendemos que nas pequenas
coisas estão as grandes soluções. É a conduta do brasileiro. Fomos,
culturalmente forjados para pensar em grandes realizações: o país
maior do mundo.
Pensamos, nos
Presidentes da República que foram Maçons e nos esquecemos dos
Prefeitos e Vereadores Maçons.
Em qualquer lugar
em que estejamos, estamos sobre uma base municipal. O Município é,
portanto, a célula da federação. Se os princípios maçônicos
gerirem as nossas municipalidades e edilidades estarão, sem sombra de dúvida,
gerindo o País. O Município é a "polis" - grega - onde
nasce a democracia e os ideais de liberdade. Se as Lojas se
transformarem em Tribunas livres na defesa dos lídimos interesses da
coletividade, os Maçons poderão, no próximo século, orgulharem-se de
nos, Maçons deste século. Assim, é exigida dos Maçons uma participação
efetiva, para recolocar o País em seu rumo. Esta participação está
por exigir que Maçons se candidatem aos cargos e, se eleitos, façam
administrações "limpas e puras", quer no Poder Executivo, ou
quer no Legislativo, e transformem as Lojas em órgão Auxiliar para o
exercício de seus mandatos. Exige-se das Lojas, por outro lado, eleitos
ou não Maçons, uma efetiva fiscalização das coisas públicas,
buscando se necessário a Justiça para punir os maus administradores.
Somente, através de administrações "limpas e puras" é que
erradicaremos o câncer da "corrupção".
Esta é nossa proposta para começarmos a fazer um Brasil melhor - o melhor País do
Mundo - para se viver, onde reine a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade.
Ir.·. João Correia Silva Filho |