O tema que nos
propomos analisar é daqueles que, de início, assustam. Todavia,
examinado com mais vagar, é dos que apaixonam. A Maçonaria, por si só,
já é apaixonante; imagine-se o esquadrinhar, o buscar as fontes filosóficas
em que a Arte Real fixa as suas bases: é duplamente apaixonante.
Quando da fundação
da Grande Loja de Londres, aos 24 de junho de 1717, dominava a Europa o
movimento filosófico denominado Ilustração, conhecido também por
Iluminismo ou Enciclopedismo.
A Ilustração não
se constitui em uma escola filosófica, no sentido exato do termo, visto
não ter tido ela um filósofo mentor, muito menos grupos de adeptos ou
nem sequer um sistema total. Era um movimento filosófico coincidente
com algumas escolas que o precederam. Esse movimento se estendeu pelos séculos
XVII e XVIII. É provável que os maçons daquela época tenham sofrido
sua influência.
Naquele tempo - a
história no-lo conta - o homem tinha ânsia de libertar-se do
absolutismo reinante e, sobretudo, tinha ganas de se ver livre da
tirania da Igreja, no que tange à liberdade de pensamento. O Humanismo
e o Livre
Exame, gerados
pelo Renascimento, fazem com que os filósofos do Iluminismo se
entusiasmem e projetem dois caminhos a serem percorridos: o do laicismo
e o da luta em busca de melhores condições de vida para o homem.
A Maçonaria não
possui uma escola filosófica porque, tal qual o Iluminismo, também não
possui um filósofo mentor, não possui uma filosofia sua, que se tenha
desvencilhado das escolas filosóficas, percorrendo sua própria trilha.
Ao contrário, a Maçonaria é uma escola de filosofar e a filosofia das
grandes escolas é que lhe servem como base de sustentação.
Temos plena convicção
de que a Maçonaria Especulativa sofreu influências marcantes da
Ilustração na sua formação ideológica.
Os filósofos
desse período temperam a razão com os sentimentos e com a experiência.
A religião deles é uma religião natural, acima de tudo racional, que
descarta qualquer mistério, qualquer dogma, qualquer fanatismo. Essa
religião natural, sem milagres, sem extremismos, trazia em seu bojo um
grande percentual de compreensão, de moral, de humanitarismo.
Para a Igreja, o
Renascimento estimulava uma cultura quase que exclusivamente terrena,
acentuando em demasia a força e a dignidade do homem, com grande prejuízo
para a vida espiritual. Era o antropocentrismo substituindo o
teocentrismo.
Desse modo, com o
advento da Idade Moderna, assanharam-se os pruridos religiosos de alguns
frades que passaram a pregar que o humanismo da Idade Moderna restringia
o homem ao puramente humano, reprimindo a mais e mais os fatores
espirituais. Diziam eles: "Nosso humanismo, por natureza, difere
sensivelmente da atitude espiritual dos demais humanismos: difere da
atitude humanista renascentista, da de Herder ou de Goethe, que apenas
pretendem elevar-se acima do puramente material; difere dos atuais
humanismos no domínio econômico, social-ético, marcial e político;
difere ainda do humanitarismo dos pseudocristãos, da Maçonaria, do Deísmo
e dos Livres Pensadores".
Como se vê, a Maçonaria
já incomodava e, como continuou incomodando, passou a ser perseguida. A
Sublime Instituição foi, e será sempre, perseguida porque prega a
liberdade de pensamento e, sobretudo, porque prega a liberdade de consciência.
Perseguida porque não aceita, não admite, não tergiversa com a
ditadura do "quero, posso e mando". Perseguida porque
proporciona ao homem o direito de conviver com os outros homens que
professem qualquer religião ou fé. Perseguida porque o seu lema maior
é "Liberdade, Igualdade e Fraternidade" Perseguida porque dá
ao homem o direito de ser livre, inteira e intensamente livre!
Mas, voltemos ao
Iluminismo. O professor Moisés Mussa Battal, nosso Irmão e excelente
filósofo chileno, no seu livro "Lições de Filosofia Geral e Maçônica"
(São Paulo, s.d.), à página 150, afirma: "Diremos que nossa
filosofia se identifica com esta Idade Moderna; sua identidade é quase
total. Esta identidade é quase uma coerência, tratando-se do movimento
filosófico chamado Ilustração".
Realmente, a
filosofia da Idade Moderna (1453 a 1789) casa-se perfeitamente com princípios
, ideológicos adotados pela Maçonaria Especulativa. Vejamos o que
afirma o professor Francisco Romero, citado na obra atrás referida do
professor Mussa: "A primeira iniciativa da filosofia moderna é sua
luta por conseguir a autonomia do pensamento frente aos ditames do dogma
teológico". "Seu esforço por elaborar, paulatinamente, uma
nova interpretação do mundo e da vida, que ainda não elimina o motivo
religioso". "Atende, em primeiro lugar, e, cada vez mais à
compreensão das coisas, mediante o livre uso da inteligência e com uma
firme predileção pelo natural, concretamente humano, o terreal".
"Contra a absorção do indivíduo nas estruturas medievais, o
pensamento moderno contribui, poderosamente, para essa liberação da
individualidade que, parece ser, em várias direções, uma das
principais fainas históricas da era moderna".
"Simultaneamente, com a liberação dos indivíduos, ocorre a dos
grupos nacionais, com relação à unidade política e cultural da Idade
Média; rompe-se a uniformidade do pensamento medieval e as
nacionalidades, animadas por uma vida nova, expressam sua peculiaridade,
em suas respectivas filosofias".
É de ver-se que
os maçons do século XVIII estivessem angustiados, procurando
libertar-se das amarras da prepotência então existente e contaminados
pelo "vírus" da libertação da inteligência.
Como já ficou dito, a Maçonaria não é uma escola filosófica, mas
uma escola do filosofar. Quando dizemos uma escola do filosofar,
fademo-lo porque entre nós se exige estudo, pesquisa, meditação.
Podemos, porém, afirmar que nossa Ordem é fundamentalmente filosófica,
buscando projetar-se, com o intuito de alcançar um ideal superior. A
beleza do filosofar maçônica está exatamente: no estudo comparativo
dos sistemas filosóficos que a história nos proporciona.
A Maçonaria não
se prende a uma escola ou a um sistema, porque isso seria tirar a
liberdade de seus membros, obrigando-os a seguir determinado caminho. Se
tal houvesse sido feito, nossa Ordem não mais existiria.
Filosoficamente,
ela mostra ao homem-maçom que ele tem um compromisso consigo mesmo, com
o seu pensar, com o que fazer de sua própria existência. Pois, quando
o homem prescinde de si mesmo, dos seus direitos e dos seus deveres,
quando o homem se esquece de si próprio, ele se nega como ser, ele se
nega como ente. Não podemos escapar da verdade de que o saber humano e
em especial o saber filosófico - vem do homem, pelo homem e para o
homem. É mister que não nos esqueçamos que a Maçonaria nos
proporciona os meios necessários para adquirirmos o saber. Infeliz
daquele que não se aperceber disto.
A filosofia maçônica,
antes de tudo, gira em torno das três luzes da conquista humana:
Liberdade, Igualdade e Fraternidade.
Os Graus Simbólicos
estão impregnados da filosofia dos grandes avatares da Grécia antiga:
Tales, Xenófanes, Heráclito, Parinênides, Pitágoras, Empédocles,
Anaxágoras, Sócrates,
Platão e Aristóteles.
O Primeiro Grau se
estereotipa no "conhece-te a ti mesmo", divisa escolhida por Sócrates.
O grande filósofo ensina ao Aprendiz que a primeira coisa a fazer é
aprendera pensar. Aprendemos a pensar; aprende-se a conhecer, a
discernir, a falar. Foi o que o próprio Sócrates fez. Daí por que a
linguagem que ele usa é sempre a linguagem do conhecimento.
Aprendendo a
pensar, o Aprendiz encontrará, sem dúvida alguma, meios e modos que
lhe facilitem a busca, a procura, a investigação, o ponto exato de
chegada.
Assim, neste
vai-e-vem do pensar, neste vai-e-vem da busca, o Aprendiz,
introspectivamente, passará a conhecer-se melhor.
É sabido que o
que caracteriza o Primeiro Grau é o trabalho essencialmente iniciático.
É necessário, é fundamental que o Iniciado morra como profano e renasça
com outra visão, buscando um outro estilo de vida.
Sócrates quer que o homem mate o que existe de ruim dentro dele e faça
viver as virtudes que o elevarão acima das pequenas coisas deste mundo.
Para Sócrates, o existir nada mais é que o cotidiano da busca. Ele
entende que tudo depende de luta e de trabalho; por este meio,
adquire-se a ciência e só assim se alcançará o degrau da virtude.
O estudo, a pesquisa, o trabalho, a luta, tudo gira em tomo do homem, em
torno do ser. Filosoficamente, sabemos que a existência humana pressupõe
a questão do ser. E não nos confinaremos em Parinênides ao pensarmos
que o SER É, o NÃO-SER NÃO É. Muitos e muitos séculos depois, Tomás
de Aquino, o gênio da Igreja, preceitua, na sua obra "De Potentia"
que ao ser não se pode acrescentar nada que lhe seja estranho, porque
nada lhe é estranho,
com exceção do NÃO-SER, que não pode ser nem forma nem matéria.
Conforme já
dissemos, o Primeiro Grau nos ensina que é necessário o conhecimento
próprio. Daí se parte para outros conhecimentos.
Conhecer é
descobrir o ser; assim, para o Aprendiz, o conhecimento pode significar
o nascimento do ser. Há dois tipos de visualização do ser. Existe a
visualização com o olho material e existe a visualização com o olho
do pensamento, usando-se a lente da inteligência, é aí que reside a
grande diferença entre olhar e ver. O profano olha e não vê, ao passo
que o Aprendiz deve olhar e enxergar, pois uma nova luz ilumina o seu
caminho.
"Conhece-te a
ti mesmo!" Isto nos formula uma filosofia ímpar, que nos leva à
conclusão de que, se não praticarmos o conhecimento de nós mesmos, se
não nos propusermos esmiuçar o nosso espírito com o fito de melhorá-lo,
com a intenção de aperfeiçoar nosso intelecto, não projetaremos em nós
mesmos uma melhoria moral, não conseguiremos desbastar a Pedra Bruta!
É meridianamente
claro que quanto mais o indivíduo conhece a si mesmo, maior facilidade
terá, em conhecer os outros. Só o conhecimento próprio, buscado,
humildemente e sem subterfúgios, é capaz de fazer com que o homem
descubra a sua própria ignorância, o que, no entanto, será mais difícil
se o espírito já não se houver apossado de algumas idéias filosóficas.
Buscando-se a si
mesmo, o Aprendiz, no seu caminhar pelas veredas da vida maçônica, irá
despojando-se dos convencionalismos, dos tabus, das superstições e irá
adquirindo pouco a pouco a capacidade de interpretar os símbolos, de
compreender as alegorias, de sentir a funcionalidade dos ritos.
O Aprendiz precisa
saber até onde deve chegar sua autocrítica Se não deve
superestimar-se, muito menos deve subestimar-se.
Um outro ponto em
que a filosofia de Sócrates muito nos ensina, é aquele que mostra a
obrigação que o maçom tem de submeter-se, conscientemente, mas sem
rebaixar-se, à hierarquia da Ordem e da sua Loja.
O pitagorismo se faz presente no Primeiro Grau, projetando o silêncio,
como primeiro fim, para que se possa melhor ouvir e meditar.
Finalmente, o
Aprendiz deve aprender a trabalhar em equipe, com amor e desvelo.
E é bom que o
Aprendiz atente para o que diz nosso saudoso Irmão Theobaldo Varoli
Filho, no seu excelente "Curso de Maçonaria Simbólica", à página
37 no 1 Tomo: "É de lembrar-se que nenhum ensinamento-padrão da
Maçonaria deve ultrapassar o seu sentido simbólico. Na verdadeira Maçonaria
não há dogmas nem afirmações eternas".
"Penso, logo existo!" Daí resulta que pensar é ser. Mas o
pensamento vai muito mais longe. O pensamento diagnostica o ser. O
pensamento não pára no que descobre e transcende a si mesmo e parte em
busca de outras metas, de outros conhecimentos; o pensamento adivinha
outras belezas que o conhecimento não havia ainda determinado. O
pensamento se auto-afirma, se auto-determina no desconhecido que ele
busca. E o Companheiro há de descobrir que o pensamento que busca é
sol derramando luz, espargindo calor, produzindo vida, consubstanciando
riquezas.
O Segundo Grau arrima-se, sobretudo, no aforismo do filósofo francês
Renê Descartes: "Se duvido, penso,- se penso, existo". Este
é um grau que se situa, filosoficamente, num patamar bem elevado,
abjurando definitivamente das superstições, voltando-se para a verdade
científica. Neste grau, podemos fazer uma síntese das filosofias de
Pitágoras, de Parmênides, de Sócrates, além de outros.
Para Varoli, é o
Grau principal e o mais histórico da Maçonaria. É dele a afirmação
de que não é maçom o Iniciado que não conhecer bem o Segundo Grau
simbólico, cuja doutrina é a mais perfeita síntese da história da
humanidade e a mais completa exposição de que o homem tem passado por
iniciações contínuas.
A primeira grande
influência filosófica do Segundo Grau é dos primeiros pré-socráticos.
Eles começaram por Indagar: "O que somos? O que é que existe? De
onde vieram as coisas? Para onde Iremos?" E se viram diante do
grande problema do achar o princípio das coisas existentes. O que
desejavam era encontrar uma resposta que se baseasse num ponto de vista
lógico ou uma proposição de aspecto geral que permitisse chegar a
conclusões concretas, a partir de si mesmos. Era mister descobrir as
razões das mudanças, talvez até aparentes, que se sucediam
constantemente na natureza. O homem ficava deslumbrado diante do fenômeno
que consistia em as coisas mudarem, desaparecerem e a natureza continuar
a mesma. E é o que acontece com o Companheiro, cuja primeira tarefa é
fazer uma análise objetiva da realidade física, a fim de que possa
chegar a ter um conhecimento tanto quanto maior da physis. Já o
primeiro filósofo grego, Tales de Mileto, buscou nas coisas aquilo que
seria o princípio de todas as outras coisas, isto é, que coisa merecia
ser considerada por ele com a dignidade do ser que tivesse existência
em si e fosse capaz de dar origem a tudo o que existe.
A vida é um
enigma e, no Segundo Grau, o tema é abordado filosoficamente. O que sou
eu? O que é a vida? Que estou fazendo neste mundo?
Neste ponto,
faz-se presente a filosofia de Paríriênides de Eléia, talvez o maior
entre os pré-socráticos. Em um dos fragmentos, dentre os que chegaram
até nós, o cleata filosofa: "Mas há no mundo o que importa mais
que o mundo: o ser do mundo". Por isso é que dissemos que o pensar
tem sempre o homem como alvo principal. Já o maior dos sofistas, Protágoras,
dizia que o homem é a medida de todas as coisas. Assim, quando se
pensa, o ato de pensar estará sempre ligado ao ser e acreditamos que se
não existisse essa ligação, não existiria o pensar, haveria apenas
um simples refletir. Por isso, ousamos discordar de um de nossos rituais
quando ali se afirma que "os sistemas filosóficos, embora
concebidos com sinceridade, são errôneos, porque se originam de convicções
e concepções humanas falíveis, portanto, como tudo o que é
humano". Quem escreveu tal coisa, entende de filosofia como o autor
destas linhas entende de economia brasileira.
O Companheiro, já
conhecendo melhor o seu EU, faz, através do estudo, o conhecimento
sociológico para poder ter uma visão segura dos valores sociais e
individuais, e isto ele consegue por intermédio de uma análise
critica, tal qual fez o filósofo Xenófanes de Cólofon, o primeiro a
criticar os dois maiores poetas da Grécia, Homero e Hesíodo,
acusando-os de terem criado toda a mítica dos deuses, o que prejudicou
em muito a vida individual e social da Hélade. O Companheiro tem que
ser o defensor da vida social e inimigo das tiranias que procuram
escravizar a inteligência e o espírito do homem. E isto é tanto mais
certo quando se sabe que a Arte Real não admite entraves ao pensamento
humano.
Podemos ainda observar que o Segundo Grau sofre grande influência dos
pitagóricos, através das várias interpretações do pentagrama. Ao se
falar na Escola Itálica, é bom que não percamos de vista o que diz
Varoli na obra já citada à página 172: "Nem só de Pitágoras
vive a Maçonaria, pois a Sublime Instituição é a síntese de todas
as filosofias".
Como o Segundo
Grau é especificamente social, o Companheiro há de afeiçoar-se ao
trabalho e entregar-se à prática da filantropia, aplicando-se ao serviço
da comunidade; ele tem que ser desprendido em favor de seus semelhantes.
De Platão, o
Companheiro herdou a Realidade Ideal. Platão baseou a sua filosofia no
quaternário - Sabedoria, Fortaleza, Temperança e Justiça -que,
eticamente, devem ser o apanágio do Companheiro Maçom.
Arcângelo Buzzi,
no seu excelente "Introdução ao Pensar", à página 170,
afirma que "O estudo da filosofia desenvolve o espírito de fineza.
Exercita o pensamento a conhecer a realidade por si próprio,
tornando-se ele mesmo esclarecido, portador de luz força de
discernimento". O Mestre Maçom é um filósofo, daí a razão por
que o Terceiro Grau é o Grau Superior, o Grau Excelso. Entretanto, em
chegando ao Terceiro Grau, o maçom é muito mais Aprendiz do que quando
trazia a abeta levantada e muito mais Companheiro do que quando se
sentava no topo da Coluna do Sul. Por quê? Porque agora ele é
"Mestre"; sua missão é ensinar. Quando se ensina, aprende-se
muito mais do que quando se estuda. Heidegger, em seu livro
"Qu'appelle-t-en pensar", edição de 1973, à página 89 diz:
"É bem sabido que ensinar é ainda mais difícil que aprender. Mas
raramente se pensa nisso. Por que ensinar é mais difícil que aprender?
Não porque o mestre deva possuir um maior acervo de conhecimentos e tê-los
à disposição.
Ensinar é mais
difícil do que aprender porque ensinar quer dizer deixar aprender.
Aquele que verdadeiramente ensina, não faz aprender nenhuma outra coisa
que não seja o aprender. É por isso que o seu fazer causa, muitas
vezes, a impressão que junto dele nada se aprende. Isso acontece porque
inconsideradamente entendemos por aprender a só aquisição de
conhecimentos utilizáveis. O mestre, que ensina, ultrapassa os alunos
que aprendem somente nisto: que ele deve aprender ainda muito mais do
que eles, porque deve aprender a deixar aprender". É preciso
estudar, é preciso pesquisar. Quem não pesquisa, quem não estuda,
muitas vezes inventa. Nossa Sublime Instituição não admite
invencionices.
A falta de
pesquisa mais aprofundada faz que, por vezes, fiquemos presos a alguns
poucos filósofos, ignorando a existência e os ensinamentos de outros.
Só para exemplificar, reportemo-nos ao estudo dos números.
Quando se fala em
números, logo nos vem à memória a figura de Pitágoras de Samos.
Ninguém nega, e seria um
despautério se o fizesse, a influência categórica dos pitagóricos
nos estudos numerológicos da Maçonaria. No entanto, só para ilustrar,
vamos tentar expor os ensinamentos de outros filósofos, quase nunca
citados, sobre o número UM, que fogem aos ensinamentos da Escola Itálica,
mas que, em nosso entender, casam-se perfeitamente com a filosofia
numerológica de nossos rituais. O filósofo Plotino nasceu em Licópolis,
no Egito, no ano 205 a.C.. Quando estava com 4O anos, mudou-se para
Roma, onde viveu até o fim de seus dias. Plotino é o fundador e o
maior expoente do neoplatonismo. Deixou nove livros, reunidos por seu
discípulo Porfírio, sob o título "Enéadas". Vejamos o que
ele diz sobre o UM: "Unidíssimo consigo mesmo, o UM não precisa
de autoconsciência, uma vez que não se pode atribuir-lhe a unidade
consigo mesmo como princípio de sua conservação. Devemos, por isso,
negar-lhe o pensar, a consciência e o conhecimento de si e dos outros,
porque devemos considerá-lo não segundo a forma do sujeito pensante,
mas segundo o hábito do pensamento. Com efeito, o pensamento não
pensa, mas é causa do pensamento para os outros; ora, a causa não é a
mesma coisa que o causado, e a causa de todos não é a totalidade. Não
se pode, pois, chamá-lo o BEM pelo fato de ele produzir o bem; mas em
outro sentido, ele é o BEM que está acima de todos os outros".
Mais adiante, Plotino afirma: "O UM é a potência de todas as
coisas; se ele não existisse, nada existiria: nem a vida primeira, nem
a vida universal. O que é acima da vida é causa da vida; a atividade
da vida não é anterior a ela, mas brota dela como de uma fonte"
Por aí se vê que não podemos e não devemos deixar de pesquisar. O
importante em filosofia é a idéia. Em assim sendo, o maçom tem que
lançar mão do estado e da meditação, aliados à sensibilidade. O maçom
há que se despejar de sistemas e de doutrinas. A nosso sentir, o que não
se deve e não se pode é confundir postulados maçônicos com os dogmas
das seitas religiosas que são inteiramente desprovidos de significação
filosófica.
Para terminar, vamos deixar falar Sócrates, o maior de todos os gregos:
"Empenho muito mais belo é quando alguém, servindo-se da dialética,
tomando uma alma apropriada, pela planta e nela semeia, com ciência,
discursos que são capazes de ajudar aos próprios e a quem os plantou,
e que não são infrutíferos, mas têm em si germes donde brotarão
outros discursos plantados, em outras pessoas, discursos capazes de
produzir esses efeitos, sem nunca falhar e de tornar feliz quem possui
tal dom, tanto quando ao homem isso é possível.
Ir.·. Raimundo
Rodrigues de Albuquerque |