A palavra Cabala tem origem no vocábulo hebraico “kibbel”, significando
lição, tradição, ensino. A Cabala é a tradição esotérica e o conjunto
das doutrinas secretas do judaísmo. Esta ciência oculta foi recolhida nas
Escrituras e devia ser transmitida oralmente e nunca ser escrita, visando evitar
que o texto caísse sob as vistas dos profanos.
Os cabalistas datam as concepções primordiais
da Cabala de tempos primitivos - que remetem a Moisés e até Abraão e Adão.
Quanto aos verdadeiros fundadores da Cabala, entretanto, são mencionados três
talmudistas: Rabino Ismael ben Ehsa (cerca de 130 d.C.); Rabino Nechunjah ben
Hakana (cerca de 75 d.C.) e, sobretudo, Simeon ben Yohai (cerca de 150 d.C.),
sendo este último apontado como autor do famoso Zohar.
Acredita-se que os ensinamentos da Cabala
começaram de forma oral, que foi transmitida por Enoque aos seus descendentes,
sendo que, posteriormente, Moisés, para evitar que seus ensinamentos se
perdessem, comunicou-os aos setenta anciãos escolhidos, e daí para frente de
forma escrita.
Mas, ao serem escritos os ensinamentos
cabalísticos, foi utilizada a maneira mais simbólica possível, com o intuito
da não compreensão profana, mas tão somente dos iniciados. Dois são os
livros fundamentais da Cabala: 1º o Sefer Yetsirah, ou Livro da Criação, e o
Zohar, ou Livro dos Esplendores.
A Cabala apareceu, na sua forma atual, por
volta do século XII, repetindo, continuando e completando o ensino esotérico
do Talmude. Na Bíblia temos os livros cabalísticos de Ezequiel e do
Apocalipse, que foram escritos de forma velada, simbólica. A chave do seu
ocultismo repousa, como a do Talmude, sobre o valor dos números, a combinação
das 22 letras do alfabeto hebraico e a força oculta do Tetragrama.
O ensino da Cabala esmera-se em dar com
precisão a definição da divindade vulgarmente denominada Deus, em fixar-lhe
os atributos e em estabelecer o processo das manifestações do seu poder. A
particularidade da Cabala é de repudiar toda idéia de antropoformismo na
definição da divindade, de afastar toda possibilidade de figuração de Deus
que é Infinito, inacessível, incompreensível... O Ser por excelência, o
Verbo eterno conjugando-se, simultaneamente ao presente, ao passado, ao futuro:
Jeová, Aquele que foi, que é, que será, Aquele cujo nome nunca deve ser
pronunciado porque o profano não compreenderia que o Deus Todo-Poderoso, o Deus
dos Exércitos não pudesse ter nenhum outro nome a não ser o verbo Ser.
A Cabala descobre todos os mistérios da
criação neste simples nome, ao estudar o simbolismo representado pelas quatro
letras formando este nome assim dividido: IOD, HE, VAV~ HE (IHVH).
Este nome é aquele que encontramos no cume de
todas as iniciações, aquele que irradia no centro do triângulo flamejante da
Maçonaria.
A primeira letra, o IOD, figurada por uma
vírgula ou um ponto, representa o princípio original das coisas, o ponto de
partida da criação. Esta letra que ocupa o décimo lugar no alfabeto hebraico,
é representada pelo número 10, ele mesmo composto do número um, unidade,
princípio, e do zero, representando o nada, por seu significado e o Todo por
sua forma. No IOD ou número 10, a unidade, origem do Todo, alia-se ao Nada para
formar o princípio inicial da Criação, princípio gerador, princípio
masculino.
A segunda letra, o HE, quinta letra do alfabeto
hebraico, representa o número 5, equivalente à metade do valor da primeira
letra, 10. E o princípio inicial IOD ou 10 que se fraciona em dois, e que se
desdobra. Tal é a origem do binário: masculino-feminino, ativo-passivo,
positivo-negativo, homem -mulher. A energia criadora masculina junta-se à
matéria fecunda feminina.
A terceira letra, VAV, ocupa o sexto lugar no
alfabeto. Resulta da ação geradora do IOD sobre o HE, ao princípio masculino
sobre o princípio feminino. E o filho, a resultante: um mais cinco igual a
seis.
A quarta letra representa um segundo HE, novo
elemento feminino, indispensável ao filho para possuir a faculdade de se
reproduzir e de perpetuar o Ser. E o grão que contém em potência a geração
futura e a possibilidade de garantir a Eternidade.
JEHOVA, portanto, não é um nome, mas o
símbolo da Criação e da Eternidade, do SER PERFEITO. Este nome não pode ser
pronunciado a não ser uma vez por ano, e soletrado letra por letra no Santo dos
Santos, pelo Sumo Sacerdote, Grão-Mestre da Arte Sacerdotal, no meio do ruído
das preces do povo profano.
Diz-nos Elifas Levi: “Todas as religiões dogmáticas saíram da Cabala e para
ela voltam. Tudo quanto existe de científico e de grandioso nos sonhos
religiosos de todos os iluminados é tirado da Cabala. Todas as associações
maçônicas lhe devem os seus segredos e os seus símbolos”.
Paul Naudon assim escreveu:
“Nada permite de resto de situar, no tempo, a adoção, pela Maçonaria dos
sinais e símbolos que a Cabala utiliza. A instituição não foi uma criação
espontânea; deriva em grande parte das associações arquitetônicas que a
precederam ou inspiraram, como os colégios romanos, as associações
monásticas, as guildas etc. Sofreu, igualmente, largas influências dos maçons
aceitos cujo papel tornou-se progressivamente primordial com o declínio do
elemento profissional.
As preocupações filosóficas desses maçons
especulativos alquimistas, hermetistas, cabalistas, rosa-cruzes e seus
subsídios esotéricos vieram juntar-se e completar os da Maçonaria. O
fundamento de suas doutrinas repousava sobre o mesmo princípio da Maçonaria: o
da imanência divina. O papel desses hermetistas foi importante na transição
entre a Maçonaria operativa e a Maçonaria especulativa moderna. Mas a sua
contribuição com um simbolismo egípcio, hebraico e siríaco não era mais que
uma síntese que vinha integrar-se em um meio amplamente preparado pelos mais
eminentes pensadores da Idade Média e da Renascença”.
O programa do grau de Aprendiz compreende os
números um, dois, três e quatro, donde os conceitos de unidade, de binário,
de ternário e de quaternário. O do grau de Companheiro compreende quatro,
cinco, seis e sete (tétrada sagrada, quintessência, rosa mística, hexagrama,
setenário). O grau de Mestre estuda os números sete, oito, nove e dez
(tri-unidade setenária, ogdoada solar, Eneada ou árvore dos Sefirot). Os dez
Sefirot são dez emanações do Deus único: dez reconduz a um...
Assim, a Cabala passa à Maçonaria seus ensinamentos mais expressivos.
Ir.·. José Geraldo da Silva
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