Vestindo a camisa verde-amarela
A seleção brasileira do técnico Waldir Pagan passava por um processo de renovação
após a geração de Maria Helena, Norminha e Heleninha. O excelente dirigente apostava tudo em
duas jovens promessas.
Hortência, com 15 anos, ainda infanto-juvenil, chegava como titular à seleção adulta. Baixa,
num esporte dominado por gigantes, e magra, Hortência tinha como armas a determinação e a garra,
capazes de derrubar qualquer muralha. Mas, as coisas estavam muito difíceis para nossa estrela.
Em 1977, a seleção perdia a hegemonia sul-americana para o inexpressivo Peru, na época treinado pelo
técnico Ary Vidal. A cobrança sob a rainha era enorme.
Em 1978, a seleção retomava o domínio da América do Sul, para não mais perdê-lo até os dias
atuais. Em 1979, mais decepções. O Brasil tinha fracas participações no Pan-americano de Porto
Rico e no Mundial da Coréia. A dificuldade continuava e, em 1980, no Pré-olímpico de Vigo,
nossa seleção não conseguia uma vaga para as Olimpíadas de Moscou. Hortência ainda estreava nas competições,
mas, junto com Paula e Vânia Teixeira, já era muito cobrada e até responsabilizada pelos maus resultados.
Mas, aos poucos a camisa 4 da seleção ganhava experiência internacional e as coisas iam
melhorando. Em 1983, a seleção verde-amarela trazia o bronze nos Pan-americanos da Venezuela.
No ano seguinte, o Brasil já não tinha dificuldades no Sul-americano. Em 1986, a seleção
não se destacava no Mundial, mas trazia de Moscou a medalha de bronze nos Jogos da Boa Vontade (Goodwill
Games).
Nos Jogos Pan-americanos de Indianápolis de 87, a equipe comandada pela dupla Maria Helena e
Heleninha sobe mais um degrau no pódio e garante a prata, perdendo o jogo final contra a equipe da
casa, a fortíssima seleção norte-americana, comandada pela armadora Teresa Edwards. Hortência
chama atenção da imprensa e do público norte-americano.
Em 91, um dos pontos mais altos da sua carreira como jogadora: os Jogos Pan-americanos de Havana.
O Brasil estreou contra os Estados Unidos, invictos em mais de 30 jogos oficiais, 2 Mundiais,
2 Olimpíadas e 2 Pan-americanos seguidos. Inspiradíssima, Hortência conduz a seleção
brasileira a uma vitória épica. Com a queda americana, as brasileiras ainda derrotaram as
cubanas duas vezes, conquistando o ouro e impressionando o ditador Fidel Castro, com a
qualidade de seu jogo. Já no ano seguinte, depois de um equilibradíssimo Pré-olímpico, quando as
brasileiras eliminaram as australianas das Olimpíadas, a magrela levava o Brasil à sua primeira Olimpíada
no basquete feminino, em Barcelona 92, obtendo a sétima colocação.
Mas a maior conquista ainda estaria por vir. Em 1994, na Austrália, a seleção brasileira não
aparecia entre as favoritas. Agora, sob o comando de Miguel Ângelo da Luz, a seleção estava muito
entrosada e, aos poucos, ia passando pelas adversárias. Na semifinal tinham pela frente a fortíssima seleção
norte-americana, invicta há três anos. Era o dream team feminino. Jogadoras como Lisa Leslie,
Tereza Edwards, Katrina McClaine e Jennifer Azzi não esperavam que as brasileiras, principalmente Hortência,
jogassem daquela forma, chegando a ultrapassar os 100 pontos. Depois veio a final contra a China e a comemoração. Ela
foi assaltada no aeroporto minutos antes de embarcar
com a equipe da seleção brasileira de basquete
para a Bulgária, em 1980. Sem o passaporte, a
viagem teve de ser cancelada. Mas o dia seguinte,
sexta-feira, seria feriado e o embaixador búlgaro
estava pescando. Sem pensar duas vezes, ela avisou a
imprensa. Acompanhada de jornalistas da
televisão,
foi buscar o homem em alto-mar e tirou um passaporte
novo em 15 minutos. “Foi uma loucura, mas eu
embarquei e isso era o que me interessava”, lembra
Hortência de Fátima Macari Oliva. |