O Cemitério da
Saudade é um dos mais importantes do Brasil e
incorpora cinco outros cemitérios particulares
localizados em seus arredores. Fazem parte do
que pode ser considerado "complexo Saudade", o
Cemitério São José; o de São Miguel e Almas; o
Cura D`Ars; o Cemitério Venerável da 3a Ordem do
Carmo e o da Irmandade do Santíssimo Sacramento
(no qual estão sepultadas inúmeras
personalidades da história de Campinas).
Fundado em 10 de outubro de 1880, quando recebeu
corpos anteriormente sepultados em um cemitério
da Vila Industrial (desativado com a chegada da
ferrovia) é o mais antigo cemitério de Campinas.
Consta em registros históricos, que a
desativação do cemitério nas proximidades da
linha férrea deu-se por decisão da Câmara
Municipal, e que o Saudade foi escolhido para
substituí-lo pelo fato de estar situado, na
época, distante do que era a área central da
cidade.
Sua dimensão total
é superior a 181,5 mil metros quadrados, nos
quais estão sepultados monarquistas,
republicanos, heróis, anônimos, escravos e
imigrantes que, cada um a seu modo, contribuíram
para construir a cidade e sua história. Nele
estão erguidas cerca de 32 mil sepulturas onde
já foram sepultados, desde o início de seu
funcionamento até os dias atuais,
aproximadamente de 500 mil corpos.
Joaquim Ferreira
Penteado (Barão de Itatiba) construiu a capela
(no centro da alameda principal, no Cemitério do
Santíssimo Sacramento) e doou a área do
cemitério para a cidade.
Até 1925 foi
conhecido como Cemitério do Fundão, já que a
área que ocupa pertencia à Fazenda do Fundão. O
primeiro registro de sepultamento no Saudade
data de 1889 e se refere ao corpo de uma mulher,
embora tenha havido anteriormente alguns outros
cujos registros se encontram na Cúria
Metropolitana. Por sua importância na cidade, o
cemitério teve seu portal de entrada, prédio
administrativo e o traçado deste é atribuído à
Ramos de Azevedo, assim como o projeto do
cemitério público da cidade de Amparo, e
inaugurados em 1899.
Prédio da
Administração |
A imponência das
sepulturas em algumas de suas quadras revela o
status em vida, o gosto e o comportamento das
famílias abastadas, e a Economia do final do
século XIX e início do século XX. Ou seja, a
história da sociedade campineira em boa parte. |
Memória Preservada
O Cemitério da
Saudade guarda bem mais do que um período da
história da arte tumular. Suas 112 quadras, que
abrigam sepulturas de pessoas simples, de
vítimas de epidemias, de ilustres, de heróicos
policiais (sepultados no Mausoléu da Polícia
Militar), além do monumento (ao lado do portal
de entrada) em homenagem aos soldados
constitucionalistas, que perderam a vida por um
ideal em 1932, proporcionam uma retrospectiva da
história de Campinas.
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Logo na entrada, a
suntuosidade das sepulturas localizadas do lado
esquerdo, na alameda principal, revela o poderio
em vida das famílias ilustres da cidade, que
transferiam para as sepulturas, por meio do
material que as confeccionavam, e de seus
adornos, o poder e prestígio que possuíam em
vida. |
Um dos exemplos é a capela onde está sepultado
Joaquim Ferreira Penteado (Barão de Itatiba), e que deu nome à rua Ferreira
Penteado no Centro de Campinas; a maior sepultura do Saudade.
Em 08/03/2005, foi sepultado na capela da família seu bisneto,
Alfredo Pupo de Campos Ferreira
(Alfredo Baralho).
A entrada do
cemitério concentra as sepulturas das figuras de
destaque da Campinas do passado. São barões,
baronesas, monarquistas, republicanos,
políticos, médicos, juristas e outras
personalidades. E o fato de ocuparem esta área
tem uma explicação: os terrenos dali eram os
mais caros e apenas as famílias de posses podiam
adquiri-los.
Mas o cemitério
preserva também uma história bem menos
esplendorosa, nem por isso menos importante. É
nele que estão sepultadas as vítimas das
epidemias de febre amarela que afetaram
fortemente a população da cidade.
Sepulturas de
pessoas de origens e condições sociais
diferentes dividem o espaço do Cemitério da
Saudade. E, entre elas, as dos milagreiros,
pessoas humildes que, ao longo dos anos, foram
se transformando em objeto de devoção do povo,
às quais se credita a realização de milagres.
São conhecidos como milagreiros Maria Jandira,
os três anjinhos e o escravo Toninho (escravo
que foi do Barão Geraldo, e que está enterrado
ao seu lado) .
Uma das sepulturas
mais visitadas do Saudade é a de Maria Jandira.
Segundo os devotos, ela era uma prostituta que
ficou noiva e ia se casar. Mas bem próximo à
cerimônia que faria dela uma senhora respeitada,
o noivo desistiu do casamento. Desesperada Maria
Jandira teria se suicidado, ateando fogo ao
corpo. Sua sepultura, a de número 289, na quadra
28, recebe visitas de pessoas com problemas
matrimoniais e amorosos.
Também são tidas
como milagreiras três crianças que morreram em
função de um incêndio na fazenda onde moravam.
Os devotos levam oferendas para os "três
anjinhos", modo como são identificados,
principalmente no dia 27 de setembro, data em
que são homenageados Cosme e Damião.
Homem de confiança
do Barão Geraldo de Resende, o escravo Toninho,
que trabalhava na fazenda de café do barão, era
reconhecido por sua bondade para com todos os
moradores da colônia. Quando morreu, o barão
adquiriu um terreno para que Toninho fosse
sepultado em área nobre no Cemitério da Saudade.
Quando o barão
faleceu sua família quis que ele fosse sepultado
bem próximo ao homem de sua confiança. Com o
tempo, o povo passou a atribuir milagres ao
escravo Toninho. Sua sepultura é ainda hoje uma
das mais visitadas.
Entre os
realizadores de milagres há também um ilustre:
Vieira Bueno. Acredita-se que isto sé dá pelo
fato de, em vida, ter sido extremamente bondoso
e dedicado aos pobres. Como apontado em sua
biografia, Vieira Bueno teve importância
destacada no atendimento às vítimas de todas as
epidemias de febre amarela que atingiram a
cidade até sua morte, em 1905.
Museu a Céu Aberto
O Cemitério da
Saudade tem, ao longo dos anos, desempenhado
papel que não se restringe somente ao
sepultamento de corpos. Tem servido também, por
sua importância histórica, cultural, e por sua
beleza, de espaço para teses universitárias,
pesquisas e aulas de História, de tema para
livros e recorrentes reportagens de jornais e
revistas e foi utilizado como cenário para
produção cinematográfica de alcance nacional.
Imagens do Saudade
foram mostradas em todo o país no filme
"Memórias Póstumas de Braz Cubas", adaptado da
obra de Machado de Assis, e estrelado por Sônia
Braga e Reginaldo Faria. Parte do filme foi
rodada no Cemitério da Saudade em 1999.
O interesse dos
segmentos voltados à arte, à cultura e ao ensino
e à história pelo Cemitério da Saudade tem
justificativa; a de ser considerado um museu a
céu aberto, cuja preservação é indispensável.
Esta qualificação
se dá por conta da sofisticação e da quantidade
de obras produzidas por figuras de renome da
arte da escultura em mármore que ornamentam
grande parte das sepulturas. Em especial aquelas
onde estão sepultados os ilustres da história de
Campinas.
De extrema
importância para o estudo da arte tumular (e
para entender a segmentação social na cidade
durante o final do século XIX e início do século
XX, auge do período em que o café era o grande
gerador de riqueza), o Saudade abriga trabalhos
de marmoristas que chegaram da Itália no final
do século XIX, além de algumas obras
encomendadas pelas famílias e trazidas da
Itália.
São peças em
mármore carrara, considerado uma das pedras mais
nobres para escultura, que chegava ao Brasil
pelo porto de Santos em grandes blocos vindos de
Marina de Carrara, no Noroeste da Itália.
Conta-se que famílias abastadas da cidade
escolhiam em catálogos europeus as esculturas
para ornamentar suas sepulturas. E as peças eram
fielmente reproduzidas pelos marmoristas.
As esculturas, no
entanto, não obedecem a um único estilo
artístico. Em algumas das sepulturas pode-se
notar a mistura deles. Na de Leonor Penteado,
por exemplo, é possível observar uma escultura
do italiano Giuseppe Tomagnini, considerado
talvez o maior fornecedor de mármore da Itália e
o grande representante da fase da arte tumular
em mármore no Saudade. A sepultura (uma das
primeiras da alameda principal) mescla arte
grega, realismo e neoclássico, definindo o
ecletismo de estilos adotado na época.
Além de Tomagnini,
outros escultores contribuíram para a
valorização artística do Saudade. Anjos, bustos,
frades, santos, Pietás, Cristos e adornos são
assinados também por artesãos das famílias
Marcelino Velez, J. Rosada e Bocatta, de talento
inegável.
Os artistas eram
em maioria oriundos de famílias de imigrantes
italianos. A imigração favoreceu a expansão da
técnica da cantaria (entalhe detalhado) no
Brasil e acabou por transformar o Cemitério da
Saudade em local onde a tradição sobrevive em um
de seus últimos redutos. Os artistas que
deixaram suas obras no Saudade eram fortemente
influenciados pela escola italiana Pietrasanta.
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Lélio Coluccini,
escultor de reconhecimento mundial, ganhador de
importantes prêmios internacionais (que estudou
na Pietrasanta e está sepultado no Saudade),
deixou também sua marca por meio do número
expressivo de obras de arte que ornamentam
várias sepulturas.
Admirado por
Pietro Maria Bardi - que em vida dirigiu o Museu
de Arte de São Paulo (MASP), Coluccini é autor
de outros trabalhos que podem ser observados em
Campinas.
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A Revoada das Andorinhas, em frente ao Museu de Arte
Contemporânea José Pancetti (MACC)
e o Monumento ao Bicentenário, no Largo das
Andorinhas, são dois exemplos. Pucceti,
contemporâneo de Coluccini, além de Nicola del
Nero e Albertini, deixaram igualmente marcas do
talento no cemitério, através de obras de arte
que produziram, já não em mármore, mas em
granito, latão e bronze, que após a Segunda
Guerra Mundial passaram a dominar a arte tumular
no Brasil. Coluccini em uma segunda fase de seu
trabalho, também utilizou estes materiais,
esculpindo figuras estilizadas, obedecendo já
aos padrões do Modernismo.
Examinando as
obras de arte guardadas no Saudade é impossível
apontar a escola predominante nas esculturas,
uma vez que elas carregam elementos neogóticos,
renascentistas, coloniais, da arte grega, do
realismo e da art-décor. Mas é possível
identificar as três fases pelas quais passou a
arte tumular: a do mármore carrara, a do granito
e a do bronze/latão.
A Segunda Guerra
Mundial - que dificultou as importações e
terminou por instalar uma crise econômica também
mundial, tornando mais escassa a riqueza gerada
pela produção do café brasileiro - é atribuído o
declínio do mármore carrara que, na arte
tumular, foi sendo substituído, então, por
materiais mais acessíveis.
A sepultura de
Thomaz Alves parece separar as quadras que
demonstram a queda do mármore dos barões e
poderosos, e a ascensão de materiais menos
nobres. A sepultura é ornamentada, além do
mármore, também com granito e bronze/latão.
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