A
Giardia é um parasita flagelado que habita diversas fontes de água e quando
ingerida pode causar sérios e numerosos problemas gastroentéricos.
Devido às limitações clínicas
e técnicas, a giardíase continua a ser subestimada dentre as doenças
infecciosas dos animais e humanos.
Provavelmente a melhor
explicação para isto é que, em muitos casos, os sintomas clínicos não são
tão óbvios e a giardíase não é diagnosticada pelos métodos utilizados na
rotina das clínicas veterinárias.
Agente Etiológico
A Giardia é um protozoário
pertencente ao filo Sarcomastigophora e classe Zoomastigophora,
que contém outros importantes parasitas flagelados, dentre eles o Trichomonas,
o Tripanossoma e a Leishmania. Estes parasitas pertencem à ordem Diplomonadida
e família Hexamitidae.
A Giardia apresenta duas formas evolutivas:
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Trofozoíto: forma
ativa, móvel, encontrada no trato intestinal. Possui aproximadamente 15 cm
de comprimento e 8 cm de largura, apresenta forma de gota. Quatro pares de
flagelos completam a aparência desta forma.
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Cisto:
estágio latente e resistente, responsável pela transmissão. Possui
aproximadamente 12 cm de comprimento de 7 cm de largura. O cisto é
sensível ao calor e à dessecação, porém pode sobreviver por vários
meses fora do hospedeiro em condições úmidas e frias.
Apesar de já
terem sido descritas mais de 50 espécies do gênero Giardia, apenas 5 espécies
são geralmente reconhecidas. Dentre elas, a G. duodenalis, responsável por
causar a doença em mamíferos.
Transmissão e Ciclo
Figura 01: Infecção por Giardia em Animais Domésticos
O cisto é a forma infectante do
protozoário. A transmissão ocorre através da rota fecal-oral, mais comumente
através da água contaminada. Reservatórios de água não tratadas ou
filtradas podem também servir como fonte de infecção. A transmissão ainda
pode ocorrer através da contaminação fecal em canis e abrigos de animais.
Uma vez instalado no ambiente, o
cisto é bastante resistente e pode sobreviver por longos períodos. Apesar dos
cistos de Giardia sobreviverem em ambientes frios e úmidos, eles também podem
sobreviver em climas quentes e secos, onde as fontes de água tais como tanques,
lagoas, campos irrigados e gramados estão presentes.
O ciclo biológico é direto. O
hospedeiro se infecta ingerindo os cistos, os quais se rompem no duodeno após a
exposição ao ácido gástrico e enzimas pancreáticas. Os dois trofozoítos,
então separados, amadurecem rapidamente depois do rompimento e atacam o
epitélio das vilosidades intestinais. Os trofozoítos se multiplicam por
fissão binária no trato intestinal e depois encistam.
Os cistos são transmitidos pelas
fezes por 1 a 2 semanas após a infecção. Trofozoítos também podem ser
transmitidos pelas fezes (especialmente em gatos), mas raramente sobrevivem por
um período significativo fora do hospedeiro.
Patogenia
Uma vez ingerido, o cisto se rompe no
estômago e libera 2 trofozoítos, os quais estabelecem a infecção no
intestino delgado. Os trofozoítos atacam a borda das vilosidades (figura 2) e
causam danos estruturais, provocando redução na área de superfície das
microvilosidades. Esta redução na área de superfície diminui a eficiência
da digestão, resultando em uma variedade de distúrbios gastrointestinais
Figura 02: Presença de Giárdia nas Vilosidades
Sinais clínicos
Os sinais clínicos mais comuns são
fezes moles, odor fétido e algumas vezes diarréia que pode ser intermitente e
aguda, muitas vezes associada à desidratação. Outros sinais incluem vômito e
motilidade intestinal aumentada, animais afetados podem apresentar perda de peso
secundária à diarréia, mas raramente apresentam inapetência.
Diagnóstico
Em casos de diarréia, o diagnóstico
pode ser direto através da observação de esfregaços de fezes frescas. Este
não é um método de grande sensibilidade, entretanto trofozoítos móveis
podem ser visualizados em microscópio de luz. Segundo dados de literatura,
menos de 20% das infecções são diagnosticadas através deste método.
Métodos de flutuação são os
mais indicados, sendo o sulfato de zinco a 33% a solução mais eficaz. O
método de flutuação com sulfato de zinco tem a vantagem de ser econômico e
permitir o diagnóstico de outros agentes parasitários.
Quando suspeita-se de Giardia,
o resultado negativo de uma única amostra não é conclusivo, devendo-se
examinar pelo menos três amostras em um intervalo de uma semana, pois uma das
características da giardíase é a eliminação intermitente de cistos pelas
fezes.
Há ainda um teste
imunoenzimático, tipo ELISA, disponível em alguns países e de anticorpos
monoclonais que são eficazes na detecção de cistos em fezes através da
técnica de imunofluorescência. Estas duas técnicas são caras e mais
utilizadas em amostras humanas.
Tratamento e controle
A droga mais utilizada para tratamento
da giardíase em pequenos animais é o metronidazol. Outras drogas comumente
utilizadas são a quinacrina, albendazol e febendazol.
Como parte de qualquer plano de
tratamento, é recomendado que o animal seja completamente limpo para remover
cistos da pele e do pêlo. O ambiente do animal deve ser descontaminado antes
dele voltar. Solução de amônia quaternária agindo por 30 a 40 minutos pode
ser utilizada na desinfecção local.
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Educação sanitária e
adoção de hábitos de higiene específicos: transmissão fecal-oral,
qualidade da água, lavar as mãos e alimentos antes das refeições.
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Tratamento de indivíduos
infectados, sintomáticos ou não. O controle parasitológico deve ser
realizado e repetido, mostrando-se negativo no 7°, 14° e 21° dia após o
término do tratamento.
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Eliminação dos
reservatórios (moscas e baratas).
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Orientar o
paciente quanto ao controle parasitológico dos animais de estimação
existentes na casa, sob supervisão de um Médico Veterinário.
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